segunda-feira, 13 de julho de 2009

Embirrações XI

Paulo Amado, director da INTER Magazine e responsável pelas Edições do Gosto, diz que não gosta de lampreia. Achámos pouco original e quisemos mais. Veio então o limão como ódio de estimação.

Gadgets II


Será que na Nova Zelândia se pode encomendar em versão screwcap?

domingo, 12 de julho de 2009

Embirrações X

O chefe Vítor Sobral, da Tasca da Esquina, não aprecia rama de aipo. Nem caldos Knorr...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Entre o Solar e a Gulbenkian


Um casal de amigos brasileiros, a quem o restaurante tinha sido recomendado pelo seu vendedor de vinhos portugueses no Rio de Janeiro, fez questão que fosse jantar com eles na passada sexta-feira ao Solar dos Presuntos. O que dizer deste restaurante? Das várias vezes que lá estive, nunca percebi porque goza de tanta fama. É verdade que o serviço é muito atencioso, tratando com familiaridade os clientes, mas isso para mim não é suficiente. E sempre desconfiei de restaurantes com paredes cobertas com fotografias de clientes famosos...Mas, enfim, a verdade é que há muita gente que vai lá há anos, que volta, adora, sai bem disposta, recomenda. Ou seja, quem sou eu para me opor à felicidade alheia?
Creio que da última vez que lá fui, levado por um amigo que me prometia "a melhor paella de Lisboa", comi um banalíssimo arroz que, se bem me lembro, nem carolino era, quanto mais bomba, mas sim agulha. A melhor recordação gastronómica que tenho da casa são uns soberbos peixinhos da horta (que acho que nem vêem mencionados na lista), mas desta vez nem eles ajudaram, amolecidos e abaixo das expectativas. Bons enchidos, presunto e queijo da Ilha no couvert e um razoável Azeitão, infelizmente com a "tampa" levantada e uma colher, mas já com cura suficiente. Nos pratos principais, apostei no cabrito de Monção assado, mas de novo a banalidade, ajudada por umas batatas e um arroz sem história (e este sem miúdos), aliás, os mesmos que acompanhavam o rosbife pedido pela minha mulher.
O João Paulo Martins, que tem a mania que já percebe alguma coisa de sólidos, disse-me que comeu lá recentemente uma excelente posta de garoupa grelhada. E vi que havia vários clientes a pedirem os magníficos lavagantes azuis que estão no aquário à entrada. Pode ser que da próxima esqueça a "alta cozinha de Monção", me aventure nas riquezas do nosso litoral e tenha mais sorte.
No dia seguinte, fui à Gulbenkian para ver o que o Miguel Castro e Silva (de cuja cozinha tenho sempre saudades) e o José Avillez andavam a preparar com produtos e receitas de África, América Latina, Caraíbas e Europa. O jantar custa 50 euros e inclui o bilhete para o espectáculo das 21.30 h no anfiteatro, que tem grupos musicais das partes do mundo mencionadas. Amanhã faz-se o último e recomendo vivamente. Fim de tarde magnífico e tranquilo na varanda da cafetaria do Museu (não é a do CAM) rodeada pelos célebres jardins. Vinho branco Madrigal, sempre bom, e um mais discutível tinto Rio Sol, que vale pela curiosidade de ser produzido no Vale de São Francisco, na divisa entre Pernambuco e a Bahia.
Nos pratos, tomate desconstruído, azeitona explosivo e creme de milho. Coloquei um bocadinho deste último no parapeito da varanda, mas o pardal que andava por ali a saltitar provou e recusou...Depois, ceviche de vieiras e lavagante (este pouco presente no prato que me coube) com guacamole e sardinha marinada, moqueca de camarão (ponto de cozedura notável) em cocotte, caldeirada na cataplana, asa de frango com caril e manga, espetada de borrego, batata-doce em chip, caviar de beringela com iogurte (o vencedor da tarde/noite) e, nos doces, panna cotta de fava tonka com coulis de morango, gelado de arroz doce anizado (inesquecível, mesmo para quem, como eu, não se perde por doces) e financeiro de castanhas e azeitonas.
Apesar de qualquer deles, saber fazer muito mais na cozinha de um restaurante, estava tudo muito bem, salvo o ritmo irregular da chegada dos pratos à mesa, que é ainda mais importante quando há espectáculo a seguir, com hora marcada. O Miguel Castro e Silva explicou-me que tinha vindo mais gente do que estavam à espera o que afectou o empratamento. Tudo bem. O José Avillez lá andava, com ar cansado mas feliz, a falar com os clientes de mesa em mesa. Disse-me que ainda ia nessa noite ao Tavares. Um dia destes cai para o lado...
Iniciativa muito válida esta de associar a boa cozinha à beleza dos jardins e à música do anfiteatro. Oxalá se repita.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Gadgets I


Será fácil de lavar?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Pub Grátis (romantic dinner)


As minhas duas castas preferidas, Pinot Grilio e Zifindale...

Entrevista a José Avillez (excerto II)

"Se for péssimo [ao paladar] mais vale estar quieto e tudo o que lá está no prato não tem razão de ser. Não ponho uma folha de salsa para dar o toque verde se essa folha de salsa não tiver alguma relação. E até porque cada vez mais gosto dos pratos mais…com umas cores não tão vivas. A arte, isto é muito pessoal, mas se tenho um prato que não foge muito do branco, do cinzento e de um beije é o meu prato, em termos visuais, o mais bonito de todos."

José Avillez em entrevista a Isabel Lucas, Outlook/Semanário Económico, 4 Julho 09

Nota: em breve publicaremos a entrevista integral (a versão de 8 páginas que saiu no jornal correspondeu apenas a metade da conversa entre os dois...)

Pub grátis (Marmite Squeezy)

Marmite é coisa e ingleses, australianos e provavelmente de outros súbitos sob influência de Sua Majestade. Para mim foi das coisas mais horríveis que já provei até hoje. Pelos vistos é mesmo um daqueles fenómenos de amor-ódio, como atesta o anúncio em que é utilizada a imagem do Special One, José. (mais aqui e aqui)

Entrevista a José Avillez (excerto I)

"No El Bulli, meia-noite, meia noite e meia acaba-se o serviço e eu, habituado a mandar em mim mesmo, subo ao balneário e vou ver o telemóvel, ver se tinha mensagens, chamadas porque ainda cá estava. Entra um sub-chefe que tinha ido à casa de banho e deu logo cabo de mim. Quem é que me tinha dado autorização? etc. Chamou os estagiários todos e depois à frente de todos disse que eu era um péssimo exemplo, nunca pode acontecer. Entrei com o pé contrário. E nas primeiras três semanas fizeram-me a vida quase num inferno." José Avillez em entrevista a Isabel Lucas, Outlook/Semanário Económico, 4 Julho 09

Nota: em breve publicaremos a entrevista integral ( a versão de 8 páginas que saiu no jornal correspondeu apenas a metade da conversa entre os dois...)

terça-feira, 7 de julho de 2009

Embirrações IX

Colunista gastronómico do jornal Estado de São Paulo, ex-director da revista brasileira Gula, J.A. Dias Lopes, um amigo de Portugal, acaba de lançar uma nova revista no Brasil, a Gosto, que já folheei e recomendo vivamente. Perguntámos pelas suas embirrações alimentares e este gaúcho que vive em São Paulo há muitos anos respondeu:
- "Bife de fígado acebolado. Comi esse prato todos os dias, durante um ano, no internato do Colégio Nossa Senhora do Rosário, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, obrigado pelos Irmãos Maristas. Diziam-me: 'é para você não ficar anêmico'. Traumatizado para sempre, evito até olhar o prato quando um companheiro de mesa o pede. Hoje, aprecio todas as receitas de fígado, menos a de bife acebolado!"

Não deixem cair esta estrela

Restaurante S. Gabriel

Não sou dado a místicas mas tenho que reconhecer que por vezes deparamo-nos com situações que tendemos a atribuir a fenómenos, digamos, paranormais. Ir a um restaurante mesmo que de topo e ter um atendimento impecável, sem uma falha, não é comum, pelo menos em Portugal. A estranheza começa pelo entusiasmo de viva voz de quem nos atende quando ligamos a reservar mesa. Depois, achamos que vamos ouvir um raspanete pela chegada com meia hora de atraso. Mas não, quando nos preparamos para pôr as culpas no GPS somos recebidos com um sorriso aberto por uma figura franzina que, pela voz, reconhecemos como sendo a mesma pessoa que horas antes nos atendeu o telefone. Susy Luginbühl é suíça e é ela a responsável pelo contágio no trato irrepreensível que toda a equipa dedica aos clientes deste espaço entre Vale do Lobo e a Quinta do Lago, onde se concentra, em férias, o equivalente a uma parte do PIB português. É provável que a hospitalidade não seja alheia aos clientes, nem tão pouco aos inspectores do Guia Michelin. Os primeiros enchem o pátio onde são servidas as refeições no período estival e voltam com frequência. Os segundos atribuem-lhe uma estrela de classificação há anos consecutivos. Na equação falta acrescentar o mais importante, a comida. Jens Rittmeyer foi durante anos parte do sucesso da casa. Acontece que este alemão regressou ao seu país e, em Março, para o seu lugar à frente da cozinha foi contratado Torsten Schulz, seu compatriota, vindo dos Estados Unidos, com passagem anterior pelo Nobu Armani de Milão. Aparentemente o tipo de cozinha praticada não sofreu alterações de maior. Continua a prevalecer a cozinha internacional de base francesa com toque mediterrânico onde se privilegia o uso de produtos de época e peixe da região.
No menu de degustação (75€) que experimentámos a sazonalidade era evidente na integração de vários tipos de fruta de época. No “Amuse bouche”, uma refrescante sopa de pepino e meloa. Com o primeiro prato, pêssegos marinados acompanhavam um camarão tigre e, no seguinte, nêsperas ligeiramente cozinhadas fariam um casamento perfeito de sabores com um peixe-galo trabalhado no ponto certo (acompanhado de espinafres de caule vermelho). Num intermezzo para limpar o palato foi a vez de um sorvete de maracujá de textura aveludada e acidez marcante, para depois nos apresentarem um peito de pato no forno, cerejas e gnocchi de batatas e trufas. Apesar de hoje em dia o magret de pato ser um produto banalizado, permite uma versatilidade de conjugações capaz de causar surpresa, como foi o caso do que nos foi servido. Os gnocchi fizeram a vez da batata gratinada e a redução com cerejas (em vez de uvas ou laranja) trouxeram ao conjunto doçura com toque acídulo.
O que não se esperava é que um dos frutos mais emblemáticos da região, o figo, fosse o elo mais fraco da noite. Não pela execução de três formas distintas a que foi sujeito na sobremesa – fatiado com calda por cima; em gelado; e em parfait -, mas pela falta de sabor (estávamos em Junho, muito no início da época do fruto). Em termos de vinhos a refeição foi acompanhada com um Covela branco, 2007 (26€) servido em bons copos e à temperatura adequada.
A continuidade dotrabalho de cozinha que projectou esta casa e a boa atmosfera que se sente - boa parte devido a um dos melhores serviços de que tenho memória - são razões mais suficientes para que este S. Gabriel continue a marcar pontos no panorama gastronómico nacional. Assim esperemos que os inspectores da Michelin, avessos a mudanças de maestros, pensem o mesmo e continuem a atribuir-lhe a tão cobiçada estrela que o espaço ostenta há alguns anos.

Contactos: Estrada Vale do Lobo - Quinta do Lago, Almancil; Tel: 289 39 45 21 http://www.sao-gabriel.com/

Texto publicado originalmente no suplemento Outlook (Semanário Económico) em 04 Julho 2009

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Histórias Exemplares III

Um jovem com memória de minhoca janta relaxadamente num restaurante de luxo, no Funchal. Já no final da refeição, e depois de acabar o Madeira que estava a beber, chama a empregada e diz-lhe: "A sua colega foi muito pouco generosa. Pode servir-me mais um pouco?". Ao que a empregada responde: "olhe, a minha colega era eu e servi-lhe a medida correcta".
Moral da história: se não consegue fixar a cara da empregada que o serve, começe a tomar comprimidos ou então solicite que deixe a garrafa na mesa.

domingo, 5 de julho de 2009

Os fritos da polémica

Para se ter uma melhor ideia da "tasca de fritos" que, segundo certas pessoas, se instalou no Terraço do Tivoli, Luís Baena manda-nos esta fotografia da sua versão dos pastéis de bacalhau. Eu aproveito o ensejo para meter a minha colherada nesta polémica. Por motivos vários, acompanhei algumas das tentativas que, antes de Luís Baena passar a trabalhar com os Tivoli, se fizeram para animar o restaurante Terraço. Fui lá várias vezes e se ao almoço a sala ainda ficava, às vezes, mais ou menos composta, ao jantar, tirando umas duas ou três mesas de hóspedes, estava desoladamente vazia. É sempre curioso ver estas "nostalgias" por parte de pessoas que não frequentavam os restaurantes, de que têm tantas saudades, em número suficiente para os aguentar. Já com o Tavares é a mesma coisa. Ninguém lá ia nos últimos anos, nem ao almoço nem ao jantar, e agora há uma data de gente que acha que fica "bem" falar do "antigo" Tavares, armados nos habitués que não eram.

sábado, 4 de julho de 2009

A resposta de Luís Baena

Como o post ficou lá para trás e o assunto é importante para o bom nome profissional do chefe Luís Baena, realço aqui, na íntegra, a resposta que ele deu a afirmações contidas nos comentários:
"Lamento que o Sr Cunha não aprecie a minha cozinha. Reconheço que a minha cozinha desafia os sentidos e irá desapontar quem não esteja aberto a novas experiências gastronómicas. Em qualquer caso, o Terraço terá sempre muito gosto em continuar a servir a qualquer cliente que esteja disposto a pagar "100, 200 e 300 euros" ou o "seu" cherne grelhado... Não foi para isso, no entanto, que fui convidado. Continuarei fiel à minha cozinha, procurando sempre ajustá-la a diferentes espaços mas sem abdicar da minha identidade.
A minha “alta criatividade” parece incomodá-lo.
O trabalho da continuação de Catralvos retorna exactamente ao ponto onde ficou por concordância da direcção e da administração.
Não estou a escrever para comentar gostos gastronómicos mas para repor a verdade: não é correcto que o Terraço tenha perdido €250.000,00.
Não devo divulgar números respeitantes a uma conta de exploração nem a um orçamento que não são nem devem ser de domínio público.
Respeito críticas gastronómicas mesmo que violentas e pouco educadas mas não posso aceitar que a isso se misturem falsidades e insinuações covardes de outro tipo."

Luís Baena

A contenda Gault Millau

Para além de publicar um qualificado guia gastronómico, as edições Gault Millau editam também aquele que é considerado como o guia de vinhos mais influente do mercado alemão, o “Guia de Vinhos Alemães Gault Millau”, da autoria de Joel Payne e Armin Diel. Pois bem, este ano um grupo significativo de produtores alemães, incluindo muitos dos nomes mais conceituados, decidiu publicar uma carta aberta ao editor, assegurando que não serão enviadas amostras e solicitando para que os seus vinhos não sejam sequer mencionados no guia.
Porquê? Porque o editor, a coberto da crise económica e editorial alemã, solicitou uma contribuição “voluntária” de 200€ a cada produtor, para além das amostras enviadas, como forma de financiamento extraordinária para a sobrevivência do guia. Um precedente melindroso por, ainda que inconscientemente, colocar em risco a credibilidade do guia, na diferenciação entre quem paga e quem não paga… mesmo que “voluntariamente”!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Avillez dá à língua em 8 páginas

Por falar em José Avillez, no Outlook que sai amanhã com Semanário Económico, o Chef do Tavares é alvo da entrevista principal conduzida pela jornalista e editora do suplemento, Isabel Lucas.

P.S. sai também a crítica que fiz ao S. Gabriel (Almancil) que desde Março tem um novo chef, Torsten Schulz, que veio substituir Jens Rittmeyr.

JA há

José Avillez criou uma nova marca - JA. Além de serem, obviamente, as iniciais do Chefe, inicia uma nova linha com preços verdadeiramente acessíveis. Os restaurantes chamam-se "JA à mesa" e o "take away" que substitui o seu Life Style Cooking em Cascais passa a ter o nome JA em casa. O designer Luís Alvoeiro (que criou o cabeçalho deste blog) juntamente com José Carlos Mendes, foi o autor da linha gráfica e fez-nos chegar estas fotos do "work in progress" no primeiro restaurante em Santos.









Embirrações VIII

Não sirvam cristas de galo a José Bento dos Santos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pão nosso (2)

"eu vejo opadeiro como um amigo, até como um padre, porque ao distribuirmos o pão falamos com as pessoas. As pessoas estão sempre a lamentar-se, a criticar...E nós tentamos deitar água na fervura. Ser padeiro não é só alimentar, não é só criar pão, é saber cuidar de cada pessoa porque cada uma tem o seu feitio. É nas padarias que se sabem as novidades e temos que saber ouvir o desabafos."


depoimento de João, padeiro, in O Pão em Portugal - Mouette Barboff, Edições Inapa, 2008

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Embirrações VII

O chefe Bertílio Gomes, ex-Vírgula, que, juntamente com a sua mulher, faz óptimos gelados artesanais em Alhandra, não se lembra de nada com que embirre...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Pub Grátis (Portugasm)

a coisa vem explicada aqui

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Olhar espanhol

"Lisboa para gastrónomos" é o título do artigo que Carlos Maribona escreveu neste sábado no ABC, actualizando a sua experiência na cidade durante o Peixe em Lisboa deste ano (já tinha estado na anterior edição). Tavares, Alma, 100 Maneiras, Panorama Sheraton, Ribamar, são alguns dos restaurantes referidos. Pelos conhecimentos, seriedade e inteligência do autor, e já agora também pela sua influência nos meios gastronómicos espanhóis, é de ler com atenção o que ele diz.

Embirrações VI

A professora de química Paulina Mata, especialista em gastronomia molecular, a poderosa Spice Girl que modera o Fórum de Gastronomia do Nova Crítica, não gosta de melão. E, nos líquidos, de água com gás e de café. Mas gosta do sabor deste último noutros contextos.

domingo, 28 de junho de 2009

Pão Nosso (I)

"(...) Alinha 5 pães de cada vez sobre a pá, uns a seguir aos outros, e coloca-os no forno. Depois de cozidos pesam entre meio quilo e 800 gramas. «Se for mais, melhor! O pão tem de ter sempre mais qualquer coisa de peso. Se for menos os clientes dizem que estamos a roubar, mas se for o contrário, não se queixam, está bom! Às vezes pesam o pão, pesam mesmo! Aqui na zona saloia[NR: Mafra], com muitos clientes idosos, habituados a comprar pão ao quilo, porque antes não era à unidade, era ao quilo. E um quilo de pão é mesmo um quilo, não pode ser menos!»

Esta vigilância dos clientes deve remontar ao período em que Salazar impediu que se aumentasse o preço do ‘pão político’, o que levou as padarias a produzir pão de menor peso, vendido ao mesmo preço que o de um quilo e o de meio quilo: enganavam o ciente mas mantinham a viabilidade do negócio.”

in O Pão em Portugal - Mouette Barboff, Edições Inapa, 2008

sábado, 27 de junho de 2009

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Embirrações V

Pedro Nunes, dos restaurantes S. Gião (Moreira de Cónegos) e quarenta e 4 (Matosinhos), abomina pepino.

Arola em S. Paulo com o grupo Tivoli

Goste-se ou não das opções tomadas não há dúvidas que neste momento o Grupo Tivoli parece ser, entre dos grupos hoteleiros portugueses, aquele que mais tem apostado na vertente gastronómica.

Depois de ter seleccionado Luis Baena para dar um novo rumo ao Terraço do Tivoli Avenida; de ter introduzido em Portugal uma cervejaria da cadeia Flô (no mesmo hotel); e de um Olivier no Jardim, o grupo associa-se agora ao chefe espanhol Sergi Arola (duas estrelas Michelin em Madrid) no Tivoli São Paulo. O restaurante dará pelo nome “Arola-Vintetres” e, segundo a informação o comunicado enviado à imprensa, será o primeiro restaurante da América comandado por um chefe espanhol com estrelas Michelin.

Não consegui perceber se teremos uma versão “pret a porter”, tipo o espaço que dá pelo seu nome no Hotel da Penha Longa (Sintra/Cascais), ou se a versão alta cozinha, mais próxima do seu Gastro, em Madrid.

Embirrações IV

Presidente do Grupo Lágrimas e empresário de hotelaria e restauração, Miguel Júdice declara: "coco, nem vê-lo!"

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A invasão chinesa...


Depois da invasão das lojas chinesas, da electrónica “made in china”, dos milhões de brinquedos chineses… e até das bandeiras portuguesas feitas na China com sete pagodes inscritos no escudo, será desta que as vinhas europeias serão conquistadas pelos investidores chineses?
Apesar de uma cultura do vinho incipiente, a China começa a descobrir, ainda que lentamente, o fascínio do vinho. Bordéus é o centro das atenções, despertando um entusiasmo, um quase fanatismo, uma cisma que se entende pelo fascínio oriental por marcas e símbolos. Fixações que nem sempre são explicáveis. Por alguma razão que a razão desconhece, os vinhos de Chateau Lafite são objecto de culto na China, negociados a preços demenciais. A procura é tão, mas tão obsessiva, que qualquer vinho que ostente, algures no rótulo, a palavra Lafite vende-se instantaneamente. Até a segunda marca de Chateau Lafite, o Carruades de Lafite, consegue ser vendido a preços bem mais elevados que muitos Premier Cru! Para cúmulo da extravagância, acabou de ser inaugurada a casa de um novo magnata chinês, em Pequim, uma réplica perfeita, e à escala, de Chateau Lafite!

No meio de tanta histeria, num país com tantos novos milionários, num país com tanto excesso de liquidez, seria inevitável que os investimentos chineses se diversificassem. Bordéus começa a ser olhado como alvo preferencial do assalto chinês, investimento do ego, da afirmação social e do triunfo patriótico. Chateau Richelieu, em Fronsac, bem perto de St Emilion, foi o primeiro a ser adquirido. A nova administração já informou que pretende comprar vinhas adjacentes para aumentar a área actual com 15 hectares de vinha. Promete oferecer bons preços…
E o Vinho do Porto, será que também vai acabar a falar em mandarim?

Embirrações III

O crítico gastronómico espanhol Carlos Maribona, do jornal ABC e do blog Salsa de Chiles, diz-nos que o que mais detesta é "el yogur".

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Histórias exemplares II


Num almoço para qual fui convidado calhei numa mesa onde um gastrónomo encetou uma conversa comigo, falando de alguns restaurantes de renome internacional aos quais já tinha ido, exibindo até uma certa intimidade com alguns chefes. A certa altura, vem a pergunta inevitável:
- O que acha da Michelin em Portugal?
- Acho que as estrelas, daquilo que conheço, está bem atribuídas. Acho é que deveria haver outros restaurantes que também as deveriam ter - digo eu, recorrendo à resposta que costumo usar.
- E o que acha do Eleven?
- É um bom exemplo de uma estrela que está bem atribuída.
- Pois eu não acho nada. Um dia fui lá com o X [e a pessoa em questão, que estava também na mesa, assentiu, confirmando por antecipação a história que viria a ouvir], para o lançamento do livro do Y. Como chegámos um pouco mais cedo, pedimos um copo de vinho. E sabe o que o empregado nos respondeu? Que tinha ordens para só servir o vinho quando o Sr. Y chegasse...Acha que um restaurante com um serviço destes merece uma estrela?
De nada adiantou eu explicar que, apesar de não concordar com a atitude do empregado (ou de quem lhe terá dado a ordem), não me parecia razão suficiente para a retirada da estrela, que estas são atribuídas em função da cozinha e não do serviço ou da decoração (informação que pareceu surpreender o meu interlocutor), que a situação se tinha passado no andar superior, onde o Eleven organiza as refeições para grupos, e não na sala do restaurante...nada fazia demovê-lo, sempre com o assentimento do seu amigo X, de que o único restaurante com uma estrela Michelin de Lisboa deveria ser punido, quiçá fechado, por não lhe ter servido um copo de vinho quando ele queria.
Moral da história: noutros países e noutras cidades, ter restaurantes com estrelas Michelin é motivo de orgulho, sobretudo entre os seus gastrónomos. Em Espanha, por exemplo, às vezes com um exagero que também não quero para cá, se um restaurante tem "só" uma estrela, dizem logo que merece duas ou até três e queixam-se do "francesismo" dos inspectores que não reconhecem a qualidade da cozinha que se faz no seu país.
Em Lisboa, desde que recebeu a estrela, o Eleven, em vez de ser saudado, começou logo a ser visto com desconfiança, numa atitude típica do género: "olha, o que é que eles são mais que os outros?". Para isto não ficar demasiado longo, nem vou enumerar a quantidade de críticas (geralmente relacionadas com o serviço) que ouvi, como se ter uma estrela Michelin fosse ter três, ou como se fosse obrigado a ser um restaurante perfeito, onde cada refeição tivesse que nos levar ao sétimo céu. Como a grande maioria dessas pessoas não aplica o mesmo grau de exigência quando vai a outros restaurantes, quer em Portugal quer no estrangeiro, só posso concluir que gostamos de punir quem tem êxito, quem ousa se destacar da mediocridade geral. Parece que não ficamos descansados enquanto não formos um país em que a sua principal cidade não tem nenhuma estrela Michelin.
Declaração de interesses: há uns anos, escrevi um livro sobre "A cozinha de Joachim Koerper" e fiquei amigo deste admirável profissional, cuja vinda para Lisboa devia ser acarinhada por todos nós.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Embirrações II

O chefe Henrique Sá Pessoa, do restaurante Alma, não pode com ostras. E também odeia molejas.

Embirrações I

Maria de Lourdes Modesto detesta lampreia.

Chapoutier, a Touriga Nacional e o Douro…


Sim, é verdade, o Chapoutier está mesmo de pedra e cal no Douro… e veio para ficar! Depois de uma parceria inicial com Bento dos Santos na Estremadura, com o EX Aequo da Quinta do Monte d’Oiro, um lote de 75% Syrah e 25 % Touriga Nacional, editado pela primeira vez na colheita 2006, eis que a empreitada se estende agora ao Douro. A primeira edição irá nascer já este ano, com a vindima 2009!
A investida no Douro está a ser apregoada com fanfarra. Michel Chapoutier, como é seu timbre, não é parco em palavras quando descreve a monumentalidade do Douro e a excelência das variedades locais. Segundo Chapoutier, as duas razões fundamentais para investir no Douro foram os solos e as castas, numa região com alguns dos solos mais incríveis que conhece… e muitas das melhores castas do mundo. Chapoutier não dúvida em afirmar que a Touriga Nacional será, porventura, a melhor casta internacional, a que lhe dá mais prazer, aquela onde sente maior potencial.
Tanto assim que tem exercido uma pressão tremenda junto das autoridades francesas do INAO para o autorizarem a introduzir a Touriga Nacional em França, nas suas vinhas do Roussillon. Logo que consiga as necessárias licenças para a introdução das variedades portuguesas, garante que não hesita um segundo em arrancar as actuais vinhas de Cabernet Sauvignon… para plantar Touriga Nacional e Touriga Franca no seu projecto do sul de França. Exactamente as mesmas castas que serão encaminhadas para vinhas que possui na Austrália!
E nós por cá entretemo-nos a bicar e a maltratar a Touriga Nacional, com inúmeros artigos de opinião a criticar os seus excessos…

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Pecados de um convento

Restaurante A Travessa
Se é daqueles que detesta ir a um restaurante onde começam a trazer-lhe coisas que não solicitou, então este lugar não é para si. Em situações normais incluo-me neste grupo. No entanto, neste caso, apreciei o género. Talvez porque já conhecia o conceito da casa, ou porque são comedidos no que servem, ou porque a fome apertava. Ou ainda, certamente, pelo facto das entradas serem boas e chegarem-nos num ritmo certo.
Estamos na Madragoa, nos claustros do antigo convento das Bernardas, paredes meias com o Teatro das Marionetas. A Travessa encontra-se neste local há cerca de dez anos, mas a fama e parte da clientela é anterior, do tempo da Travessa das Inglesinhas. Os “culpados” dão pelo nome de Viviane Durieu e António Moita. Ela é Belga, está lá desde o início e nessa altura arregaçava as mangas na cozinha. Ele, português, entrou mais tarde no projecto e é quem faz as honras da casa. Com ele o peixe e a gastronomia portuguesa passaram a ter maior preponderância num menu base de cozinha internacional. No entanto, apesar da ementa variada muito do reconhecimento que ainda hoje goza, deve-se a um prato popular belga que continua a marcar presença aos sábados à noite: “les moules et des frites” (mexilhões com batata frita).
São 21h, relativamente cedo para um jantar de 6ªF. Talvez por isso, olhando em redor, percebe-se que a maioria dos clientes são estrangeiros, uns atraídos pelas referências em guias e revistas internacionais, outros, provavelmente, clientes habituais, membros da comunidade estrangeira residente no país. Não pertencemos a esta segunda categoria mas, apesar da nossa tez latina, passamos bem por membros da primeira. Ou pelo menos foi essa a sensação com que ficámos ao dirigirem-se a nós, mais do que uma vez, em inglês. Não se pense, contudo, que este traço cosmopolita seja intimidante. De todo. A Travessa é um local acolhedor onde somos bem servidos do princípio ao fim, mesmo quando, no final, é visível nos rostos de quem nos atende, o cansaço de dezenas de “piscinas” feitas, para lá e para cá, naquele espaço extenso.

Empada de perdiz

A Travessa não é do género de ter “entradinhas” na mesa à espera do cliente. Elas vão chegando em pequenos actos. Nesse dia havia ovas de peixe-galo - com outras de salmão pelo meio --, num tempero irrepreensível, entre poejos manjericão; pimentos de Padrón ; queijo de cabra panado com doce de framboesa e terrina de fígado de pato com doce de cebola. Num segundo acto, um naco de porco preto veio à mesa sendo fatiado à nossa frente (bom produto, exterior estaladiço e interior num ponto perto do limite). Para finalizar esta primeira parte, uma sopa de peixe-galo: cremosa, rica e leve - cumprindo assim o seu desígnio de entrada.
Por esta altura o restaurante já se encontrava cheio, com um equilíbrio maior entre nacionais e expatriados (termo que os anglo-saxónicos gostam utilizar para se referirem aos seus emigrantes de luxo), grande parte com ar de clientes frequentes.
Nos pratos principais, um primeiro ingresso em falso: uma raia “beurre noire” cujo a redução de balsâmico foi duplicada de vinagre. Acontece aos melhores. Reposta a situação, pudemos desfrutar de um peixe que embora confeccionado convenientemente voltou a sofrer com aquela redução. Não que a mesma estivesse incorrecta, mas porque veio desequilibrar, em termos de sabor, a conjugação entre os elementos clássicos da receita.

Com o prato seguinte, empada de perdiz, voltou-se ao melhor nível: recheio bem apaladado e generoso na perdiz, envolto em massa bem trabalhada.
O acompanhamento foi em parte comum aos dois pratos: batata primor assada; feijão verde salteado; esparregado; puré de nabo (com pimenta em demasia) – tudo acima da média. Com a empada, as melhores batatas “chips” de Lisboa: saborosas estaladiças, sem evidências do óleo da fritura (quer no palato quer à vista).
Nas sobremesas tivemos direito a uma récita de onde optámos por um praliné, versão bomba calórica, e uns mirtilos com creme de mascarpone.
O vinho que acompanhou a refeição (excepto sobremesa) foi o Castelo d’Alba Vinhas Velhas 2006, um belo branco encorpado que serviu de pau para toda esta obra (não tendo sequer vacilado com a redução de balsâmico).
(preço médio por refeição completa: 50€/pax com vinho) 



Contactos: Travessa do Convento das Bernardas 12 Madragoa – Lisboa ; Telef: 213902034 (www.atravessa.com) 


Texto publicado originalmente no suplemento Outlook (Semanário Económico) em 20 Junho 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A tasca do Sobral


Jantei ontem na Tasca da Esquina, o espaço que Vítor Sobral abriu na terça-feira em Campo de Ourique (Rua Domingos Sequeira, 41 C, na esquina com a Rua do Patrocínio, onde antes funcionava O Correio, tel. 210 993 939). Gostei bastante do restaurante, excelentemente localizado, bem decorado, alegre, acolhedor, com um balcão à entrada e umas mesas altas, com outros 26 lugares sentados numa varanda coberta "ligada" à movimentada rua através de paredes de vidro.
Lá estão alguns dos nomes que têm acompanhado Sobral há alguns anos, como Hugo Nascimento e Luís Espadana na cozinha, ou o Sérgio, na sala, entre outros. Na lista, uma atractiva quantidade de petiscos a preços que variam entre os 3,5 euros e os 9,5 euros: codornizes com cerejas, passarinhos (também codornizes, diz-me o chefe, porque os "originais" estão protegidos por lei), línguas de bacalhau ao alho, berbigão no tacho, moelas fritas ou de tomatada, farinheira com favas, rabinhos de porco de coentrada, túbaros com pimentão, atum de conserva caseira, fígados de ave de escabeche, alhada de camarão, lingueirão. amêijoas, ostras, entre muitos outros, que vão variar conforme o mercado.
Nos pratos principais, entre 9.50 e 19.50 euros, bacalhau à Gomes de Sá, raia cozida em azeite, atum com batata doce, queixada no forno com pimentão da horta, bifes, bitoques e pregos. Nas sobremesas, farófias, creme queimado, pudim Abade de Priscos, bolo de chocolate.
Interessante também a carta de vinhos, não muito extensa mas sempre com opção a copo. Está dividida por preços: de 8, 50 a 28,50 euros.
Há também degustações ("fique nas mãos do chefe!," propõem) que vão dos 14,50 (sopa e três porções) a 32,50 euros (sete porções, mais queijo e sobremesa).
Ou seja, tudo muito simples e fácil de perceber. Fico com uma ponta de vaidade quando Vítor Sobral me diz que a ideia de fazer este espaço lhe surgiu há dois anos, durante a primeira edição do Peixe em Lisboa, quando percebeu a apetência das pessoas por este tipo de cozinha, apreciada em ambiente descontraído, a preços acessíveis, em que os clientes contactam com os cozinheiros. Ele garante-me que mesmo que o seu anterior restaurante Terreiro do Paço, fechado para obras, estivesse a funcionar, abriria esta Tasca da Esquina, que se sente realizado profissional e pessoalmente por fazer esta cozinha, por ter, até agora, a casa sempre cheia, pela facilidade em contactar com as pessoas, pelo bem que lhe faz já conhecer as pessoas do bairro, a mulher da papelaria ou da pastelaria em frente. Não quer nem ouvir falar em low cost. porque diz que é um projecto que já nasceu muito antes da moda começar.
Não vou fazer "crítica" daquilo que comi, porque não estava lá para isso. Digo só que eu e os cinco amigos que me acompanhavam jantámos lindamente, que a sala estava cheia e alegre, que Sobral serviu aquilo que quis, que pagámos quase 50 euros por cabeça, o que achei um pouco exagerado. Mas como bebemos duas garrafas do óptimo branco Vinhas Velhas 2007 de Luís Pato (a 12,50 euros cada, uma excelente relação qualidade/preço) e mais uma do tinto alentejano que Sobral fez com Paulo Laureano (outros 12,5 euros) e comemos bastante, talvez não seja assim.
Por enquanto, o restaurante está a fechar entre as 16.30 h e as 18.30 h, mas a ideia é ter sempre cozinha aberta das 12.30 h até à meia-noite. Fecha domingo ao jantar e segunda-feira todo o dia. Vou voltar certamente, muitas vezes.

We have "understands"


Nada como uns dias de férias a sul. Foto tirada no Café Correia, em Vila do Bispo (não sei se percevem mas há poucos assim tão bons como os desta região).

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Catralvos com vista para o Tejo?

Na terça-feira, ao fim da tarde, fui à inauguração do novo terraço do Hotel Tivoli, na Av. da Liberdade, no último piso, contíguo ao restaurante onde oficia Luís Baena, coadjuvado por João Hipólito. A vista é soberba e será certamente muito agradável lá ir nestas noites de Verão, ficando aberto até à uma ou duas da manhã, servindo versões "aperitivo" das criações que Baena apresenta ao lado, no restaurante, ao jantar. Estava lá muita gente, até o Miguel Pires, muito jet set, muita gente ligada à moda, ao jornalismo (não gastronómico) e à publicidade. Gostei de ver esta variedade, porque se nos estamos sempre a queixar da falta de "massa crítica" para os nossos restaurantes mais criativos, não podemos excluir pessoas que podem contribuir para o êxito destes espaços.
Não vi a lista, mas falando com Luís Baena ele explicou-me que vai, finalmente, dar claramente continuidade ao trabalho que desenvolveu na Quinta de Catralvos. Fiquei muito satisfeito. Sou um "órfão de Catralvos" e creio que há várias pessoas que sentem o mesmo. Além de Luís Baena, só José Avillez se aventurou consistemente na cozinha mais vanguardista em Portugal. Porém, curiosamente, o experiente Baena é mais "radical" do que o jovem Avillez, e, mesmo que cometa alguns erros, estou muito interessado em ver o que a sua imaginação pós-Catralvos vai oferecer.
Numa época em que quase todos os chefes parecem tolhidos na sua criatividade, é óptimo ver que Luís Baena parece ter condições para desenvolver uma cozinha digna do grande profissional que ele é.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Champanhe...


Se fosse crente fiel dos princípios da religião budista faria os possíveis por, numa próxima reencarnação, ressuscitar como viticultor na região de Champanhe. Para quem sempre se queixa que a agricultura e a viticultura são actividades económicas lastimáveis, com custos e riscos elevados, rendimentos miseráveis, a região de Champanhe encarrega-se de reajustar a realidade.
Afinal, com rendimentos mínimos de 10 toneladas por hectare (que, por regra, ultrapassam largamente estes valores por excesso, por vezes quase os duplicando) e com preços hereticamente elevados, é fácil perceber a rentabilidade da viticultura nestas terras tão inóspitas. Sobretudo quando descobrimos que os preços de uva no ano passado se cimentaram, estatisticamente, nos 5.35€ por quilo! Em Portugal, raros são os casos onde a uva é valorizada a mais de 0.50/0.60€ por quilo…
Com rendimentos por hectare tão elevados, é fácil perceber os segredos do conforto bancário de quem possui vinhas na região…

terça-feira, 16 de junho de 2009

Histórias exemplares I

Um conhecido gestor português, ainda novo, rico, sofisticado e viajado, revelou a um não menos conhecido gastrónomo:
- A minha mulher e eu adoramos trufas brancas. Já não passamos sem elas.
- Ah sim? E onde é que as costumam encontrar? São tão raras...
- No Olivier. Ele tem todo o ano e vamos lá quase todas as semanas. Estamos viciados naquele aroma..., confessou o gestor, com ar cúmplice.


segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Casa Portuguesa


Acabei de regressar de Barcelona onde, a convite do Consulado português, tive o prazer de poder apresentar a uma plateia de sommeliers, donos de garrafeiras e outros profissionais catalães, um panorama geral e genérico sobre vinhos nacionais, a sua especificidade e identidade. A culminar a palestra seguiu-se uma prova de vinhos de três produtores nacionais bem representativos das suas regiões, Quinta do Vallado, Carlos Campolargo e Herdade da Malhadinha. Bem organizada, a prova foi um sucesso imediato, visível nos rostos e nas conversas dos muitos profissionais que encheram o terraço do hotel Pulitzer.
Mérito inequívoco do consulado português, na execução política da promoção dos valores e produtos nacionais, mas, igualmente, engenho e talento de uma das mais incríveis e louváveis iniciativas que conheci nos últimos anos, a Casa Portuguesa em Barcelona. Casa Portuguesa que se apresenta como um misto de loja gourmet, garrafeira, pastelaria, casa de tapas e local de cultura, local de animação e vivência urbana que pude confirmar “in loco”. Um local moderno e bem desenhado, com uma preocupação estética mais que evidente, local de exposições de pintura e fotografia, de lançamentos de livros… onde só se vendem produtos portugueses, sem qualquer excepção ou condescendência. A cerveja, à garrafa ou à pressão, é nacional, os vinhos, em garrafa ou a copo, são sempre nacionais, os petiscos e tapas todos lusos, os bolos de pastelaria efectivamente nacionais, os chocolates, conservas, bolachas, azeites, etc… sempre pátrios. Só a selecção musical se mostra mais eclética, passando por todas as paragens, estilos e recantos do mundo.
Mas o melhor da Casa Portuguesa é que o espaço não é, e não quer ser, um local de peregrinação da saudade, um gueto de portugueses, um café para os encontros de futebol, um reduto de cachecóis de equipas portuguesas, de presuntos e réstias de cebolas penduradas no tecto. Pelo contrário, é um local de encontro de barceloneses, de promoção do que de melhor se faz em Portugal, sem complexos, sem sentimentos de inferioridade, sem pudor. E que gozo me deu ver um espaço tão bem concebido, numa das ruas mais movimentadas da noite de Barcelona, apinhado de jovens espanhóis a beber cerveja super-bock, vinhos portugueses a copo, a comer avidamente pasteis de bacalhau e empadas de galinha, a deliciar-se com bolas de Berlim e bolas de carne de Trás-os-Montes, a pedir Queijo da Serra e Queijo de Azeitão, a suspirar pelos pastéis de nata. Sim, sim, vendem diariamente mais de 700 pastéis de nata…
Afinal, a cultura gastronómica portuguesa também pode ser facilmente exportável!

domingo, 14 de junho de 2009

Cardos, chicória, beldroegas e funcho

"(...) Quem já esteve num supermercado francês sabe que esta erva se vende cara. O que abona em favor dela: uma pessoa, mesmo sendo uma erva, deve vender cara a sua vida. Do funcho usa-se tudo: a rama, as sementes e o bolbo.
Quando faço peixe no forno, as sementes de funcho são indispensáveis. Ponho, numa assadeira, cenoura, batata, tomate, pimento, cebola, alho e, claro, o peixe, o azeite, o meu contabilista (estou a brincar, eu não tenho contabilidade organizada), o louro, deitando depois um punhado de sementes de funcho. Quanto à rama, vai bem com, por exemplo, o salmão fumado. O bolbo refoga-se com o porco. Cá em Portugal, os pobres desprezam o funcho, da mesma maneira que os ricos desprezam os pobres. Mas ele cresce em todo o lado, indiferente às críticas dos jornais."

O Afonso Cruz vive algures numa aldeia no concelho de Sousel "perto de Casa Branca, encostada àquele fenómeno chamado desertificação do interior”. Para inveja de muitos de nós, trabalha a partir de lá. Escreve, ilustra, toca, apura os sentidos. Neste post (que transcrevo, em parte, acima) e num registo muito próprio, fala-nos de ervas "daninhas" comestíveis. Cardos, chicória, beldroegas e funcho (aqui).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Onde acaba o prato (e entra o silicone)

Chamem-lhe “Factor surpresa”, “Show off”, “Engagement”, ou outro termo qualquer. Em restaurantes de topo e dentro de certos limites, tudo parece válido para extravasar a criatividade de um Chef. Como em tudo existem posições opostas: há quem não aprecie “truques de circo” e prefira uma cozinha mais pura e directa; e há quem prefira e valorize o seu lado mais criativo e espectacular.

Grant Achatz, do Alinea, em Chicago, é um dos Chefs favoritos destes últimos. No seu blog, Back of the house deixa-nos o exemplo e a explicação de uma das suas ultimas ideias (aqui).

terça-feira, 9 de junho de 2009

Vinhos sem álcool?

Sim, eu sei, o debate é sobretudo filosófico e conceptual, mas será que um vinho sem álcool continua realmente a ser vinho? Não será a fermentação, e o álcool como produto natural e inevitável da fermentação, um dos principais sustentos daquilo a que chamamos vinho? Fará sentido o vinho sem álcool, elemento decisivo na estrutura, corpo, suavidade e identidade do vinho?
Bom, comercialmente, talvez seja uma vantagem decisiva, sobretudo nos mercados de monopólio estatal, nos mercados do Canadá e países nórdicos, onde o álcool sofre juízos morais que dificultam a entrada no mercado, taxas rijas, e onde os vinhos estão dependentes de concursos internacionais para poder entrar no mercado. Apresentar uma bebida sem álcool, com aspecto e paladar semelhante ao vinho, isenta de concursos estatais para entrar em garrafeiras, é uma vantagem competitiva evidente. Poder vender esta bebida a jovens de todas as idades, poderá ser outra vantagem comercial pelo alargar de mercados.
Mas, se nos apartarmos das vantagens financeiras para os produtores, será que o modelo de vinho sem álcool faz sentido?

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Cozinhar abaixo das possibilidades


Fausto Airoldi a fazer tuga burger nos Spot Lx, Henrique Sá Pessoa na tentar dar Alma a um magret, Ljubomir Stanisic no 100 Maneiras a fazer tudo o que pode por menos de 30 euros numa cozinha mínima apenas com um auxiliar, Augusto Gemelli também a ir na onda dos menus low cost, Vítor Sobral a ir para a cozinha de tacho na Tasca da Esquina (a abrir dentro de dias), Miguel Castro e Silva também deverá ir em breve para a petisqueira...De um momento para o outro, alguns dos nossos principais nomes da cozinha perceberam que a maior parte da clientela gosta é de comer baratinho.
"Alta cozinha low cost" pode ser um conceito de marketing atractivo mas é uma contradição nos próprios termos. Não há "alta cozinha" sem bons produtos, sem equipas bem preparadas, sem bons equipamentos, sem testar as receitas vezes sem conta. E tudo isto custa dinheiro. Para já não falar de serviços de loiça, copos, vinhos, decoração e do preço de um espaço bem localizado. Poderá haver "criatividade" low cost (e Ljubomir é talvez o melhor exemplo), mas esqueçam-se da "alta cozinha".
Como quase todas as ideias fáceis, também esta é bastante perigosa. Primeiro, porque parece que quem cobra mais de 40 ou 50 anos a um cliente é um cozinheiro armado em fino que nos quer roubar. Depois, porque limita a criatividade dos cozinheiros a um tipo de cozinha que precisa de agradar ao público a qualquer custo, recorrendo a fórmulas mais do que vistas.
Quer isso dizer que os restaurantes anteriormente citados não são válidos? Claro que são, mas a verdade é que, talvez com excepção de Vítor Sobral (para quem este restaurante pode ser o reencontro com uma cozinha que ele pratica magistralmente), todos estes cozinheiros deveriam estar a fazer outras coisas, a arriscar mais, a criar mais. Acho que eles próprios têm consciência disso, a culpa não será só deles, mas enfim...é o país que temos.
Com isso, com excepção dos restaurantes dos hotéis (sobretudo no Valle-Flôr, com Aimé Barroyer, no Terraço Tivoli, com Luís Baena, e no Panorama Sheraton, com Leonel Pereira), deverão sobrar dois restaurantes de topo em Lisboa: o Eleven, onde a longa experiência e profissionalismo de Joachim Koerper o tornam impermeável a modas, e o Tavares, de José Avillez, que teve a inteligência de evitar confusões e deixar o low cost para outro espaço, o JA, cuja primeira unidade já abriu no largo Vitorino Damásio.
Talvez seja pouco para uma capital europeia. Principalmente quando já temos um bom número de chefes que podem praticar "alta cozinha high cost".

sábado, 6 de junho de 2009

Coisas simples e bem feitas

Batatas fritas estaladiças e sem evidências do óleo da fritura (quer no palato quer à vista) podem ser algo de extraordinário.

Estas acompanharam uma boa empada de perdiz no restaurante sobre o qual vou escrever no Outlook do próximo Sábado.

P.S. o Duarte Calvão achava que tinha descoberto as melhores batatas fritas de Lisboa… 

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Larmandier Bernier


Raras são as semanas em que não sou confrontado com essa frase fatídica, o momento em que alguém me declara que não gosta de champanhe, espumante, cava, sekt ou qualquer outro nome que sirva para identificar a sedutor vinho com bolhinhas. Apesar de me incomodar sobremaneira, entendo os fundamentos da afirmação. Quem nunca provou um bom champanhe, um champanhe autêntico e bem feito, não pode conhecer o prazer supremo de bebericar uma das bebidas mais sensuais do mundo. A analogia é fácil, se pensarmos como seria alguém provar um vinho californiano do estilo Porto … para logo afirmar que não gosta de Vinho do Porto Vintage!
Claro, o bom champanhe é caro, escandalosamente caro, fruto de uma associação de luxo e celebração bem construída pelos grandes produtores da região. Não é fácil encontrar excelentes champanhes a preços alcançáveis. Porém, mesmo em Portugal, conseguem-se encontrar verdadeiras preciosidades, champanhes belíssimos e acessíveis, vinhos superiores a preços sensatos acessíveis ao comum dos mortais… pelo menos em dias de festa!
Um dos produtores que mais me emociona é Larmandier Bernier, um pequeníssimo produtor no oceano de champanhe, uma casa minúscula num universo de impérios e gigantes. Em Larmandier Bernier tudo é alternativo, bem visível na loucura de se lançar nos preceitos da agricultura biodinâmica numa paisagem tão agreste e extremada. Os vinhos são absolutamente extraordinários na pureza aromática, na secura e precisão, na complexidade só ao alcance de poucos produtores notáveis. E o melhor de tudo é que estão disponíveis em Portugal, importados por Os Goliardos (Rua da Mãe de Água, 9 , 1250-154 Lisboa), com preços que variam entre os 25€ da versão mais simples, o Brut Tradition, e os 42€ do vinho mais caro, o Vieilles Vignes de Cramant, um champanhe de vinhas velhas absolutamente notável na complexidade e originalidade.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sardinhas "high cost"


Jantei ontem no Caracol, no Bairro Alto, as primeiras sardinhas do ano. Com a proibição do trânsito e a lei do tabaco, há agora diversas esplanadas naquelas ruas, o que é muito agradável desde que haja o bom senso de afastar caixotes de lixo e ajustar a iluminação, duas coisas que falharam no Caracol, onde um holofote encandeava as próprias sardinhas. Mas como ainda havia luz natural e a gerência é simpática, desligaram-no enquanto estivemos por lá. E consegui uma mesa longe dos caixotes. Mas sabem quanto paguei por um prato de quatro sardinhas ainda magrinhas, embora frescas e bem grelhadas, com batatas e uma boa salada? 11 euros. Ainda dizem que os preços da "alta cozinha" são escandalosos. Justificação (?) do responsável do Caracol, que, repito, é muito simpático: "nos Santos Populares o preço do quilo vai aos dois/três euros". Aqui está uma "margem" de deixar qualquer restaurante com estrela Michelin cheio de inveja.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nova adesão ao "not so high cost"

Há dias, na rede social Facebook, Augusto Gemelli expressava a sua apreensão em relação ao dia seguinte ao Lisbon Restaurant Week. Depois de ler o que Luís Antunes escreveu no forum da Revista de Vinhos (aqui) chego à conclusão que se tratava de um "teaser" para o novo posicionamento do seu restaurante.   

Levantam-se nesse post algumas questões em relação à tão agora falada cozinha "low cost". Será que para sermos mais correctos, não deveria antes utilizar-se o termo "not so high cost"?

De qualquer forma, tal como tem acontecido com Henrique Sá Pessoa (Alma) e Ljubomir Stanisic (100 Maneiras-Bairro Alto),  não há razão para que Augusto Gemelli não tenha sucesso com este seu novo posicionamento.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Vintage 2007, uma declaração clássica?



Nisto das afirmações bombásticas há que ter alguma cautela, tento na língua, bom senso suficiente para que as revelações pomposas não descambem no caricato. Todos os anos escutamos a mesma ladainha, a que proclama a colheita da década, a vindima do século, o melhor ano de sempre desde que há memória, o tal ano excepcional que só acontece uma vez na vida, o discurso natural de quem produz e quem vende. Quem emite opinião pode, e deve, manter um registo mais sensato e reservado, sem o entusiasmo natural de quem necessita da promoção mediática.
Por isso poderá parecer estranho que, agora que os Vintage 2007 finalmente se materializaram, eu saia a terreiro argumentando que a declaração Vintage 2007 será, muito provavelmente, uma declaração clássica, uma das tais que ficará nos anais da história, uma referência para o futuro! Estarei eu a ser demasiado optimista e precipitado? Possivelmente, mas asseguro que medi bem as palavras e que não as escrevo com ligeireza ou precipitação, num arrebatamento mais ou menos juvenil. A elegância, precisão, delicadeza e profundidade dos Porto Vintage 2007 é absolutamente memorável, num registo pouco habitual nas declarações mais recentes das décadas de noventa e início deste século. Não fora a tão propalada crise, esta seria a altura certa para comprar à caixa…