sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Em grande no Alto de Lisboa


Restaurante Panorama


Poucos são os restaurantes que se podem gabar de possuir uma vista esplendorosa como este. Situado no último andar do Hotel Sheraton, um dos maiores edifícios de Lisboa, o Panorama não pretende ser apenas mais um restaurante de hotel virado para a clientela interna. As obras de remodelação de que o hotel foi alvo, em 2007, transformaram-no numa referência “trendy” da capital e tiveram um efeito semelhante no restaurante. E as coisas nem começaram muito bem neste ponto. Declarações precipitadas sobre a ambição de conquista de estrelas Michelin a curto prazo, ainda o restaurante mal tinha aberto, colocaram a fasquia demasiado elevada a um jovem Chef, Henrique Sá Pessoa, que iniciava ali uma nova etapa com uma equipa a necessitar de rodagem e entrosamento. As reacções não se fizeram esperar e as referências negativas leram-se e ouviram-se por aí. Felizmente esse passo em falso foi superado. O Henrique saiu para abrir o Alma, onde faz neste momento um enorme sucesso, e Leonel Pereira substitui-o à frente da cozinha. Seguiu-se um período discreto em que pouco se ouviu falar deste espaço, o que permitiu ao novo Chef afinar e desenvolver as suas propostas. Leonel Pereira não é propriamente um novato, antes pelo contrário. No seu currículo constam passagens por Paris, Veneza, Algarve e Brasil onde, neste ultimo país, como responsável pela cozinha dos hotéis Pestana, foi considerado Chef revelação do Ano por uma grande referência local, o Guia 4 Rodas. Talvez por influência de todos estes sítios por onde passou a sua cozinha de autor é uma cozinha do mundo em que produtos de várias proveniências se cruzam numa fusão equilibrada, sem números de circo.
Suba-se então ao último andar, saia-se do elevador e dê-se de caras com a vista panorâmica sobre a cidade. À direita um piano transparente demarca a zona do bar (onde é permitido fumar). À esquerda, após o balcão, a sala de refeições. O Luxo impera e felizmente um certo bom gosto também. Cores sóbrias, iluminação exemplar e mesas à distância certa. Sobre as mesas - bem atoalhadas - loiça, copos (para água) e talheres, tudo Christofle.  
Com esta envolvente e com um menu cheio de propostas sugestivas é quase criminoso não optar pelo menu de degustação. O de 5 pratos custa 49€ e vale a pena. Na noite em que jantámos, há cerca de um mês, a sessão teve um começo auspicioso com um carpaccio de vieiras e ananás como entretém de boca. De seguida, de entrada, um tártaro de robalo com ovas de tobiko (peixe voador), funcho e cerefólio, servido com um gaspacho de morangos. A profusão de elementos poderia colocar em risco sabores mais delicados, como os do robalo. Mas isso não aconteceu e cada ingrediente teve o seu papel sem anular o outro. Aliás este princípio foi válido para os restantes pratos. Ao contrário de uma tendência actual mais minimalista, Leonel Pereira utiliza bastantes elementos em cada prato mas consegue fazê-lo quase sempre de forma harmoniosa (e também com sentido estético apurado), como aconteceu também com o prato seguinte, Lagostins salteados com cristais de cítricos, geleia sólida de alvarinho perfumada com baunilha e falsa maionese de melancia. No Robalo cozinhado em vácuo com água do mar e salicórnias, creme de topinambours e (cogumelos) pleurotus, a profusão de elementos foi mais contida, o que permitiu uma maior expressão ao sabor delicado do peixe. Como prato de carne tivemos um Carré de leitão desossado com batata nova confitada em azeite de baunilha e acompanhado de um puré de nectarinas. Pena que o puré não tivesse dado o contraste cítrico necessário a tão forte conjugação com a baunilha a sobrepor-se em demasia. O que valeu foi que para desenjoar foi-nos servida uma sobremesa light : Bouquet de frutas - morangos, framboesas, mirtilos, maças e figos -, folhas e flores sobre creme de papaia e nêspera.
Em termos de vinhos o serviço foi correcto: boas opções na carta, temperatura certa, bons copos). A acompanhar o menu bebeu-se um Covela branco 2007, embora o leitão necessitasse de algo mais robusto. Por último, de referir que fomos atendidos por uma equipa de bom nível profissional que ajudou a completar o bom momento de refeição neste espaço de características únicas.   

Tártaro de robalo com ovas de tobiko , funcho e cerefólio,  gaspacho de morangos



Carré de leitão desossado, batata nova confitada em azeite de baunilha, puré de nectarinas



Bouquet de frutas, folhas e flores sobre creme de papaia e nêspera
(Preço da refeição descrita + couvert, água e cafés: 141€/2 pessoas)
Contactos: Hotel Sheraton Lisboa, Rua Latino Coelho 1 - Lisboa ; Telefone: 213120000
Texto publicado originalmente no suplemento Outlook (Diário Económico) em 24 Outubro 2009

7 comentários:

Anónimo disse...

Justo, oportuno, interessante.

Parabéns.

Parabéns também para o Panorama, um dos poucos criativos verdadeiros. Espero que se mantenha.

Paulina Mata disse...

Também lá tive um excelente jantar recentemente. O mesmo menu.

Uma óptima cozinha e uma vista deslumbrante! Muito bom!

Anónimo disse...

141 é caro, não creio que se justifique. Claro que o caro é sempre relativo, os que podem distinguir as ovas de tobiko das outras, não acharão.

Anónimo disse...

Jantei lá este sábado com mais 3 pessoas, e tudo estava excelente!
Pelo que soube atravéz do Maitre a carta de Outono/Inverno vai começar dentro de dias.Ficamos então à espera de Novidades.

Zé Vasconcelos

Anónimo disse...

Parabéns Miguel pela excelente reportagem. Pois este chefe e o seu restaurante merecem. Já fui lá e adorei. Espero que o chefe Leonel se mantenha assim sem grandes mediatismos e a fazer um trabalho muito seguro e cheio de criatividade. Quando o MKT se suprepõe ao próprio trabalho alguma coisa está mal!...

Cumprimentos e boa sorte para o Blog

Cordeiro disse...

Outra vez a mesma personagem será que é tudo á borla para fazer bem , será que os outros não têm espaço neste site são sempre os mesmos até dá para desconfiar Portugal não é só Lisboa nem só compadrio é preciso que mudem de figuras que só tem mediatismo porque têm alguem atrás a manterem as suas loucuras gastromónicas .

Miguel Pires disse...

Caro Cordeiro,

Outra vez e as vezes que julgarmos necessárias. Só me faltava vir alguém dizer sobre quem ou que é que devo escrever.

P.S. folgo em saber que pelo menos desta vez lá arranjou um nome