Restaurante Emo
Num meio que nos últimos anos começou a exultar os seus actores é bom ver surgir sangue novo capaz de ombrear com os protagonistas mais consagrados (refiro-me àqueles que por fruto da qualidade do seu trabalho viram justamente reconhecidos o seu talento). Pedro Peinado Pereira é um nome a reter. Chefe do Emo, o restaurante gourmet do novo hotel Tivoli Victoria, em Vilamoura, ele é a pedra basilar de um puzzle em que as peças se encaixam bem. A sua cozinha contemporânea com influências da cozinha tradicional (e popular) portuguesa é equilibrada, arrojada e segura. Ao seu dispor tem um espaço desenhado com bom gosto e uma equipa de sala competente e dedicada. O grupo Tivoli não esconde as pretensões com este Emo. Pretende ter um espaço gourmet por excelência e proporciona as condições para que isso aconteça. E tendo em conta as duas refeições ali feitas recentemente, consegue-o e a preços muito interessantes para o nível.
Na carta não existe propriamente um menu de degustação. No entanto a possibilidade (e a sugestão) de dividir os pratos permite na prática que se faça, pelo menos, uma degustação de quatro pratos e uma sobremesa, o que é óptimo dado que as propostas são bastante sugestivas e ousadas, se não vejamos: incluir caracoletas, tremoços ou mioleira, ou ainda um bitoque e um rancho (ok, o primeiro é de tamboril, e este ultimo de lavagante e mexilhão) ou ainda uma interpretação do tradicional cozido à portuguesa, cujo caldo é servido granizado e a morcela em gelado, não são propriamente as opções mais comuns de se encontrar por aí em restaurantes de topo.
Gaspacho de Cozido à Portuguesa e seu Gelado de Carnes ao fumo
De todos os pratos que tivemos oportunidade de degustar este último foi o único que não convenceu. Houve a preocupação em criar um equilíbrio de sabores entre os elementos, mas no teste do palato a aprovação tornou-se difícil. Nada que desarmasse e impedisse de continuar a desafiar algumas convicções como, por exemplo, o facto de não gostar de caracóis. E aqui foi mais por engano do que masoquismo que acabei por ver à minha frente aquilo que na ementa vinha descrito como, “A Vieira, a Caracoleta Moura e seu Caviar” (sim, de caracol!). Na verdade o conjunto resulta numa boa soma das partes graças também ao precioso auxílio de um linguini acídulo (pela integração de limão) como acompanhante.
A Vieira, a Caracoleta Moura e seu CaviarSapateira, Azedinha da Horta e espuma de cerveja
Podia continuar por mais duas páginas a descrever tudo o que de muito bom se experimentou. Por exemplo, a “Sapateira, Azedinha da Horta e espuma de cerveja” foi uma das melhores coisas que comi nos últimos tempos (a sapateira, desfiada. As folhas de azedinha, fritas. A espuma de cerveja, sobre uma gelatina da mesma e ainda, a acompanhar, estaladiços e tremoços); com o “Xadrez de Sardinha e Espada Preto” prova-se que dois peixes considerados menos nobres podem dar um prato realmente interessante – ainda mais quando acompanhadas de um xarem de confecção eximia - e que um “Carre de Vitela Abraseada com Ginjas e Pipis” pode-nos levar ao céu (e fechar os olhos ao facto das mini costeletas serem quase do tamanho das de borrego).
Xadrez de Sardinha e Espada Preto
Nas sobremesas o cunho internacional é mais vincado mas a influência portuguesa também marca presença. Das quatro provadas destaco o “Chá de vinho do Porto com especiarias, figos roti e gelado de azeite fumado” (ver foto abaixo), uma amostra do portfolio do chefe pasteleiro que se mostrou ao nível do seu par.
Em matérias de vinhos, existem algumas falhas que deveriam ser corrigidas: a carta é relativamente curta, não apresenta datas de colheita e praticamente não inclui vinhos generosos. De resto, copos de qualidade ( Schott Zwiesel de topo de gama) temperaturas de serviço e preços, correctos - bebeu-se um Chablis, La Chablissiene Vielle Vignes.
Tenho noção que não é muito sensato colocar já nos píncaros um restaurante aberto há tão pouco tempo, ainda para mais num país onde a consistência e a consolidação de um espaço num nível elevado, é ténue. Contudo arriscamos o título na esperança que o “Vici” se concretize em pleno e por muito tempo.
(Preço médio para uma refeição completa de entrada, prato e sobremesa: 50/60€, com vinhos)
Contactos: Tivoli Victoria –Vilamoura; Tel: 289 317 000 ; GPS: 37º 06' 15. 66" N, 08º 08' 30. 41" WTexto publicado originalmente no suplemento Outlook (Diário Económico) em 15 Agosto 2009
16 comentários:
Então mas este restaurante não era para ser assinado pelo Chefe Luis Baena? Pelo menos é o que ele anuncia na intermagazine de há uns mesitos atrás, parece que depois do barrete do Terraço não quizeram arriscar neste também, ainda bem pois apostaram num jovem chefe Português, pelos vistos cheio de valor,Parabéns!!
Os melhores cumprimentos,
Pedro Jorge
Tanto quanto sei o Chefe Luis Baena participou na definição do conceito do restaurante no seguimento da sua função de consultor do Grupo Tivoli. No entanto é passível de gerar alguma confusão o facto do seu nome aparecer em alguns sitios como Chefe do Emo, nomeadamente nas brochuras do próprio hotel.
Apesar da aposta na vertente gastronómica por parte deste grupo hoteleiro notam-se falhas na sua comunicação. O exemplo atrás referido é um dos casos, mas mais grave é a ausência de informação (ou informação pouco mais que básica) no site dos hotéis
Aproveito para perguntar-te que funções ainda tem o Luís Baena no Tivoli. É só consultor e supervisor, ou ainda tem a responsabilidade directa do Terraço?
Entao quem esta agora no terraço? ja alguem ja la passou depois do chefe Baena?
Penso que agora o chefe Baena por agora funciona apenas como figura de markting dos hotéis Tivoli, ou seja, mantém a posição de Consultor..
Penso que agora o responsável (segundo ouvi fonte do tivoli), é um jovem chefe de 25 anos, que tem como base a cozinha "Velha" do Terraço, mas com um toque mais estético e comteporâneo..
Os melhores cumprimentos,
Pedro Jorge
tanta conversa em volta do Baena?
é só nome e mkt?
os resultados visiveis são muito fracos?
será que teve algum papel positivo na gastronomia?
penso que não´, é tudo muito negativo.
Com a idade que tem o lugar de consultor é o indicado
boa sorte e deixe espaço aos jovens
Luis Baena continua como Chefe Executivo dos Tivoli, segundo o próprio me informou. As respostas em relação a algumas dúvidas aqui levantadas podem ser lidas num post que o mesmo publicou recentementeno Fórum NovaCritica ( http://www.novacritica-vinho.com/forum/viewtopic.php?t=8852)
Em relação a alguns comentários anónimos aqui deixados, certamente que contribuiria muito mais para o debate e esclarecimento de certos factos e opiniões se estes comentários tivessem um rosto e, já agora, se fossem mais fundamentados.
Continua, mas não por muito tempo segundo ouvi dizer.
Não sei porque defendem tanto o trabalho seste senhor, que foi ao Terraço com o seu conceito que me enumere um prato de geito? um só?
Quero ver qual será a próxima desculpa a inventar quando sair definitivamente do tivoli, em portugal os falhanços são sempre culpa dos clientes, mas não vêem o que fazem..
O que vale é que haverá sempre os amigos para o defenderem, supostos criticos, escrever um texto em forma poética sobre qualquer assunto é fácil, eu próprio o faria sobre crochet ou arraiolos sem que percebe-se algo do assunto, não percebo como para estes supostos criticos em relação a este senhor é tudo tão perfeito, a carne no ponto, o peixe idem, o sabor.. e são tão criticos em relação aos outros, será ele então perfeito? confesso que a sua conversa enganaria muita gente..
É triste que certas farsas da nossa praça sejam levada ao colo sistematicamente.
Apenas um recado, foram humilhadas pessoas com 30 anos dedicados à cozinha, muita gente foi pisada, encostada, pessoas que deram o seu suor, o seu esforço, sem nada receber em troca, alguns despedidos injustamente, e por isso o que se julgava certo e estava encoberto, foi descoberto e o imprério caiu, é apenas o principio porque tudo aquilo que damos aos outros, seja bom ou mau, seja feito por nós próprios ou por intermediários.. Mais tarde ou mais sedo é nos retribuido...
Os melhores cumprimentos,
Pedro Jorge
Ps. Sr Miguel Pires, se estou a assinar o meu nome não estou a comentar no anonimato certo?
de klk das formas hoje faço login, para que não se haja duvidas da minha identidade.
com criticos destes que defendem sempre os mesmos é que a nossa gastronomia está como está. e está cada vez pior mas ninguém diz nada é tudo bom ou muito bom agora com o low cost até temos clientes.
acabem com esta palhaçada, sejam sinceros, não enganem as pessoas.
que restaurante pode ter estrela michelin. a meu ver há dois mas só dois (tavares e DOC) tudo o resto ñem para 2011 é candidato.
Alguem ja foi comer ao terraço a dita comida classica? Será que vale a pena? De onde veio o dito chefe de 25 anos?
Caro Pedro Jorge
quando referi "alguns comentários anónimos" referia-me a quem não se digna sequer a assinar o comentário, o que não era o seu caso. De qualquer forma agradeço o facto de se ter identificado com login. De resto não vou comentar. Cada um tem o direito à sua opinião em relação a este ou aquele Chefe ou em relação aos criticos (ou supostos criticos, como refere). Pelo menos fiquei a saber, no seu ultimo parágrafo, a razão de tanta azia. Se é legítima ou não, não me cabe a mim avaliar. Este espaço está aberto a quem quiser debater sobre gastronomia e vinhos, mas não servirá para lavar roupa suja.
Peço desculpa pois um dos comentarios foi feito por mim, Susana Santos. Uma vez mais mil desculpas e ñ quero causar nenhum problema no forum, o meu comentario foi( Alguem ja foi comer ao terraço a dita comida classica? Será que vale a pena? De onde veio o dito chefe de 25 anos?) obrigado
Susana Santos
Cara Susana Santos,
não causa qualquer problema aqui no blogue, até porque os comentários têm que ser aprovados, antes de serem publicados. Quanto à pergunta que faz, lamento mas não lhe sei responder. Só soube destas alterações no Terraço depois de alguns comentários aqui deixados.
Vou tentar ir lá pois como ja foi dito é cozinha classica, e é a minha preferida.
Ass. Susana Santos
A cozinha do Luís Baena entusiasmou-me muito em Catralvos.
Na única vez que fui ao Tivoli Terraço, logo no início, nem tanto - pareceu-me hesitar entre continuar Catralvos ou adaptar-se à "realidade Tivoli". Um mau serviço de vinhos também não ajudou.
Quanto ao trabalho desenvolvido enquanto supervisor de toda a restauração dos Tivoli, não posso ter opinião por desconhecimento.
Li a critica, ou crónica, sobre o Restaurante EMO .(uma amostra do portfolio do chefe pasteleiro que se mostrou ao nível do seu par.)
Como Chef de Pastelaria, a pergunta fica :
'Para quando a divulgação do trabalho dos Chefs de Pastelaria em Portugal?'E que , ao abrir os comentarios, fala-se de Chef Tv e Chef menos TV ( nao ponho em causa o valor, para la chegar o mereceram..em alguns casos,noutros é gritante o marketing envolvido )
Felicidades para o vosso Blog
Nuno Castro
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