sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Mesa Marcada no Sapo


A partir de hoje o Mesa Marcada tem um novo endereço: http://mesamarcada.blogs.sapo.pt/

(Caso nos acompanhe por RSS não se esqueça de subscrever este novo endereço) 

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os 100 mais da Wine Spectator em 2009


É uma das listas mais aguardadas do ano e acabou de ser editada em pré-publicação, com edição muito próxima. Em antestreia nacional ficam desde já as duas únicas referências portuguesas da lista deste ano, o Meandro 2006, com 92 pts, e o Churchill’s Touriga Nacional 2007, com 91 pts.
Em jeito de curiosidade, os dez melhores classificados são:
• Fontodi Flaccianello 2006 (99 pts)
• Carlisle Syrah Papa's Block 2007 (98 pts)
• Domaine St.-Préfert Collection Charles Giraud 2007 (97 pts)
• Uccelliera Brunello di Montalcino 2004 (97 pts)
• Clos des Papes 2007 (97 pts)
• La Massa Giorgio Primo 2007 (97 pts)
• Saxum Broken Stones 2006 (96 pts)
• Numanthia-Termes Termes 2005 (96 pts)
• Merry Edwards Sauvignon Blanc 2007 (96 pts)
• Poggio Il Castellare 2004 (96 pts)
• Renato Ratti Marcenasco 2005 (96 pts)
• Hall Cabernet Sauvignon Kathryn Hall 2006 (96 pts)
• Barone Ricasoli Castello di Brolio 2006 (96 pts)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Restaurante Romando (Vila do Conde) apresenta “A Melhor Carta de Vinhos”

Como o tempo é escasso e a noticia é relevante para dar em 1ª mão (ou 2ª, ou 3ª, whatever), publique-se o comunicado de imprensa:

O Restaurante Romando, de Vila do Conde, foi o grande vencedor da edição de 2009 do Concurso Nacional de Cartas de Vinhos, uma iniciativa da Revista de Vinhos em parceria com a distribuidora PrimeDrinks, ao assegurar o primeiro lugar na categoria “A Melhor Carta de Vinhos”. O segundo lugar desta classificação para a melhor carta em termos absolutos foi alcançado pelo Buhle, do Porto, tendo o Restaurante Fortaleza do Guincho, de Cascais, conquistado a terceira posição.

Este concurso, recorde-se, visa escolher e premiar os restaurantes estabelecidos em Portugal que disponibilizam a melhor carta de vinhos aos seus clientes (classificação absoluta), distinguindo, também, algumas categorias específicas de cartas de vinhos, como a Melhor Carta de Vinhos Regional, a Melhor Carta Preço/Qualidade e a Melhor Carta Vinho a Copo, tendo os respectivos prémios sido entregues hoje, dia 16 de Novembro, numa cerimónia que decorreu no âmbito do Encontro com o Vinho/Encontro com os Sabores, um evento promovido pela Revista de Vinhos no Centro de Congressos da FIL, em Lisboa.

Ainda na categoria “A Melhor Carta de Vinhos, o júri decidiu atribuir dez menções honrosas aos seguintes restaurantes: Vila Joya (Albufeira); Nellitos (Almancil); Casa da Dízima (Paço d'Arcos); São Gabriel (Almancil); Amadeus (Almancil); Flor de Sal (Mirandela); Sem Dúvida (Lisboa); Cais da Estação (Sines); Casa Matos (Salreu) e Tasca do Joel (Peniche).

Na categoria de Melhor Carta de Vinhos Regional, que pretende distinguir um restaurante especializado em cozinha regional que tenha uma carta de referência no que se refere aos vinhos da região, o grande vencedor foi o Restaurante Castas e Pratos, da Régua (Douro), logo seguido do DOC, em Armamar (Douro), tem ficado na terceira posição, ex-equo, a Casa Arouquesa, em Viseu (Dão) e a Vintage House, no Pinhão (Vinho do Porto). Nesta categoria, as menções honrosas foram para A Escola, em Alcácer do Sal (Alentejo) e Castas do Convento, em Moção (Vinhos Verdes)

No que se refere à categoria Melhor Carta Preço/Qualidade, que pretende distinguir os restaurantes que tenham uma boa e diversificada carta e que apresente uma boa relação de preço face à qualidade dos vinhos disponíveis, a vitória foi para o Restaurante .Come, de Alcabideche, tendo a Casa Matos, de Salreu, alcançado a segunda posição.

Finalmente, na categoria Melhor Carta «vinho a copo», que distingue o restaurante com uma melhor e diversificada oferta de vinho a copo constante na sua carta de vinhos, a escolha do júri voltou a recair no .Come, de Alcabideche, seguido do Shis, no Porto, e da Tasca do Joel, em Peniche. As menções honrosas foram para a Casa Arouquesa, de Viseu, o restaurante Bocca, em Lisboa, e o A Ver Navios em Santa Catarina, em Lisboa.

Refira-se que a Revista de Vinhos e a PrimeDrinks realizam este concurso com o intuito de promover e aumentar a diversidade da oferta de vinhos de qualidade através da Restauração, incrementando a importância deste canal como mostruário da imensa diversidade dos vinhos portugueses, bem como o serviço e o consumo de vinho a copo de qualidade dentro da Restauração, como forma de adaptar o seu consumo às exigências de uma vida saudável e civicamente responsável.

 Parabéns aos vencedores e faço votos para que os premiados deste concurso sirvam de inspiração a todo o meio neste tema fundamental.

O que se leva desta vida


“O que se leva desta vida” é uma peça de teatro, em cena no São Luiz (http://www.teatrosaoluiz.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=76), que retrata a criação de um novo prato que ambiciona a estrela Michelin num restaurante fictício de cozinha erudita. A peça é brilhante, muito bem assessorada por nomes como José Avillez ou Fausto Airoldi, traçando com incrível humor e fina subtileza uma das grandes discussões transversais à gastronomia e ao vinho, a controvérsia entre a pureza da matéria-prima e a transformação, criação e reimpressão da natureza na cozinha… ou na adega.
Os amantes da gastronomia e do vinho vão sair extasiados… A não perder!

sábado, 14 de novembro de 2009

Pub grátis (day after)



Bom... não é propriamente a bebida daquelas viúvas de Reims, mas pode saber a tal pela manhã do "day after".  Então em fim de semana de Encontro com o Vinho (na antiga FIL) e respectivos jantares paralelos, como é o caso deste, um Guronsan até sabe a Krug 88.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Entrevista a uma Inspectora do Guia Michelin



A resposta não passa de um chorrilho de lugares comuns. De qualquer forma a iniciativa não deixa de ser interessante, tal como este site criado nos Estados Unidos. Só não se entende porque é que a Michelin não faz o mesmo na Europa.

Pub Gratis (Thank god i'm a man!)





(clicar nas fotos para visualizar melhor)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Embirrações XXV

Fausto Airoldi é chefe dos restaurantes Suite e Spot e presidente da Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal (www.acpp.pt), cuja sede em Lisboa, na Rua Sant'Ana à Lapa, 71 C, é uma antiga agência do BCP Privado, está aberta ao público, tem cursos de cozinha e loja. Vale a pena visitar. Ele está a dar uma interessante entrevista à NovaCrítica-Vinho, mas já nos disse que detesta tripas enfarinhadas. Logo ele, que tanto admira a nossa cozinha tradicional.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

João Pires no Gordon Ramsay

Parece que João Pires vai ser o novo chefe de escanções do Gordon Ramsay, o restaurante três estrelas Michelin de Londres que leva o nome do seu célebre chefe. A confirmar-se, trata-se de excelente notícia, porque, embora seja um óptimo profissional que faz falta a Portugal, João Pires pode defender bem os nossos vinhos num dos principais restaurantes de uma das principais capitais europeias. É esperar para ver.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ponha aqui o seu pezinho


O convite era tentador: 4 dias de “dolce fare niente” no Choupana Hills, no topo de uma exuberante colina com vista sobre o Atlântico e a cidade do Funchal. O corpo pedia tréguas e o local reunia todas as condições para lhe satisfazer os caprichos. Mas era óbvio que não podia perder a oportunidade de conhecer um pouco mais a oferta gastronómica desta ilha madeirense. Cinco dias – acrescidos de outros três, em Julho –  não são suficientes para um aprofundado conhecimento de causa, mas dá para perceber que existe uma oferta variada que vai do quiosque de rua que vende bolo do caco nas mais diversas formas, até ao mais sofisticado dos restaurantes (na sua grande maioria em hotéis), passando por locais mais populares, ou mais tradicionais (uns mais para turistas, outros mais para consumo interno).
Esperava encontrar à mesa uma presença mais forte da gastronomia local. Mas tal como acontece em muitos outros sítios onde o turismo é preponderante, esta presença acaba por se diluir no meio de uma cozinha globalizada (para o bem e para o mal) e também na dificuldade em conseguir fornecimento regular produtos locais de qualidade (uma queixa que ouvi de chefes dos restaurantes de topo).


Xôpana (Choupana Hills) – Funchal

Uma das pessoas que vi mais empenhadas a este respeito foi Mommo Abbane, o Chef  canadiano de origem argelina que comanda a cozinha do Xôpana, o restaurante do Hotel Choupana Hills. Na sua cozinha de fusão de influência oriental encontramos, por exemplo, um tártaro de atum com chantilly de wasabi; peixe espada com chutney de pimpinela (chuchu) e molho de maracujá; filete de bodião e juliana de verdura Thai; ou um cheesecake de bolo de mel. Do que experimentámos, encontrei criatividade e um grande equilíbrio de contrastes e conjugações a nível de sabores, texturas e inclusive em termos nutricionais. Destaco o foie gras à la plancha com mil folhas de ananás, molho de chocolate e malvasia e o linguado com  ceviche de vieiras, caviar, inhame da ilha e creme de couve lombarda.
(preço médio com vinho: 60/70€, pax)



ceviche de vieiras, caviar, inhame da ilha e creme de couve lombarda

Ainda dentro do género de cozinha mais sofisticada, duas outras boas apostas são os restaurantes Quinta da Casa Branca, no hotel de charme com o mesmo nome, e o Uva, no novíssimo Hotel The Vine.


Quinta da Casa Branca – Funchal

Na Quinta da Casa Branca temos um jovem cozinheiro, Miguel Laffan,  a fazer uma cozinha internacional de matriz francesa, quer em termos de técnica quer em termos de produtos base. No almoço que degustámos esteve quase tudo muito correcto, com produtos de boa qualidade a serem bem trabalhados. Umas vieiras no ponto, com cogumelos selvagens constituíram uma entrada muito agradável (mesmo que um brioche com salmão fumado aparecesse no prato sem grande propósito), o mesmo acontecendo com um impecável magret de pato fatiado servido com favas e uma espécie de risotto de trigo. Na sobremesa um coulant de chocolate ladeado por banana e gelado de maracujá deu um toque insular à refeição que decorreu no exterior, num pátio rodeado de um jardim luxuriante. (preço médio com vinho: 50/60€, pax)



magret de pato fatiado, favas e risotto de trigo

Uva (Hotel The Vine) - Funchal

No Hotel The Vine, State of Art em termos de design moderno, tudo parece ter sido criado para esmagar. À saída do elevador, no último andar do edifício que se situa no centro da cidade, deparamo-nos com um amplo terraço de vista assombrosa, como se estivéssemos no palco de um anfiteatro pontuado de luzes em volta. O Uva fica num dos lados. No menu a inscrição “cozinha de autor, por Antoine Westermann com interpretação de Thomas Faudry e sua equipa”, revela a ambição – A Madeira teve pela primeira vez este ano um restaurante galardoado com uma estrela Michelin, o Il Gallo D’Oro, e Antoine Westermann tem em Estrasburgo, no Buerehiesel, um três estrelas, e, em Cascais, o Fortaleza do Guincho, com uma. Por isso não é de estranhar que o menu seja o mais francês de todos. Não experimentámos a asa de raia salteada, nem a galinha de Bresse, mas alinhámos por terras gaulesas num intenso consomé de cogumelos “cepes” com torrada dos mesmos e nas noisettes de veado assadas, com um “tatin” de marmelo. Antes um óptimo lavagante azul assado com massa fresca de forte sabor cítrico - uma conjugação simples e atractiva. (preço médio com vinho: 60/70€, pax)



noisettes de veado assadas, com um “tatin” de marmelo

Santo António – Câmara de Lobos

No dia seguinte foi vez de fazer uma romaria ao restaurante Santo António, em Câmara de Lobos, conhecido por fazer uma das melhores espetadas de carne, da ilha (pára-se naquela zona da cidade como quem pára na Bairrada para comer leitão). Outrora em pau de loureiro, hoje em dia esta especialidade chega-nos à mesa num espeto de metal ficando apoiada ao alto, na mesa. Os pedaços de carne do lombo estavam suculentos, o tempero acertado e, a acompanhar, o imprescindível milho frito. (preço médio com vinho: 20/25€, pax)



espetada de carne, milho frito, bolo do caco...

 Cantinho da Serra – Santana

Do desafio para uma caminhada nas levadas de Santana chegámos ao ultimo restaurante deste grupo. Ora marcar uma actividade física para as 13h pressupõe um reforço calórico para aguentar tão árduo esforço. Cantinho da Serra é o nome deste restaurante de comida caseira. Pela mesa espalhavam-se diversas entradas: boas a bola de atum, a carne de porco em vinha d’alhos e a morcela de sangue; dispensáveis as pastas de atum e outra de um sucedâneo de ovas de salmão.  Da carta escolheu-se algo mais substancial. Nesse Sábado havia uma joelheira de porco, que juntámos ao cabrito à Senhor da Serra, ao galo do campo e a um bacalhau assado. Tudo comida de forno cozinhada por alguém que trata por “tu” os alimentos e com boa mão para o tempero. Acompanhamentos comum para as carnes: papas de milho (muito boas) e batata primor. As sobremesas foram ponto fraco desta refeição. Entre o doce da casa (aquela coisa também conhecida por “doce da avó” e que é uma adaptação, “tipo” tiramisu), o doce de natas e a mousse de maracujá, entre outras propostas colocadas na mesa, reinou a  mediania. (preço médio com vinho: 25/30€, pax) 


joelheira de porco, batata primor e batata doce


E assim se passaram cinco dias na Madeira  cujo o objectivo era o de dar tréguas ao corpo. Mente sã em corpo bem nutrido. Não é assim o provérbio?


Contactos:

Xôpana : Choupana hills Resort&Spa, Funchal. Tel: 291206020
Quinta da Casa Branca: Rua Da Casa Branca 7, Funchal. Tel: 291 700 770
Uva: Hotel The Vine, Rua dos Aranhas, No 27 – Funchal. Tel: 291 009 000
Santo António: Rua João Gonçalves Zarco - Estreito Câmara de Lobos. Tel: 291910360
Cantinho da Serra, Pico António Fernandes, Santana. Tel: 291573727

Texto publicado originalmente no suplemento Outlook (Diário Económico) em 7 Novembro 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Pura maldade


Eu sei que é perverso e quase desumano, mas vá lá, só mesmo para provocar, deixem-me adiantar o alinhamento do jantar de um amigo que percebe mesmo de vinhos, há coisa de quatro ou cinco dias. Nos brancos entrámos com um embate entre Chapoutier Le Méal blanc 2000, Kumeu River Mates Vineyard 2006, Georges Vernay Condrieu Coteau de Veron 2006 e Delas Condrieu Clos Boucher 2006. Forma incrível para o Georges Vernay, decepção tremenda para o Delas!
Para os entreténs de boca avançou o Chateau d’Yquem 1988, soberbo como raramente o são os Sauternes.
Para a piéce de resistance alinharam-se Penfolds Grange 2002, Penfolds Grange 2001, Penfolds Grange 1998, Gaja Sori Tildin 1997, Chateau Ausone 1997 e Opus One 1997. Custa-me admitir, mas a estrela da noite foi mesmo o Grange 1998, seguido de muito perto pela Grange 2002 e Gaja.
Para rematar em beleza, o Chateau Les Justices 1998, um Sauternes bem engraçado, que desconhecia por completo…

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Uma sanduiche gourmet, sff.

O artigo não explica se o sucesso do Xie Xie, em Nova Yorque, se deve  à conjuntura ou se foi porque se descobriu por ali o filão das sanduiches gourmet (de que Alain Ducasse se tornou fã). Por cá andamos mais entretidos com a veia petisqueira de Vitor Sobral e de Miguel Castro Silva, mas para quem quiser boas sanduiches poderá encontrá-las aqui, pela mão de Michele Guerrieri (curiosamente um italiano com passado novaiorquino).



Esta não é de um nem de outro. Foi tirada do blog amazing sandwiches.

Biológico... ou biónico?


Pois é, não sei se teria coragem para provar este "sapo biónico" nascido na Califórnia...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Portuñol


Foi mesmo este o nome eleito por François Lurton para ilustrar o seu novo projecto de vinho, um licoroso de Toro, um vinho extreme da variedade Tinta de Toro, elaborado “ao estilo” do Vinho do Porto. Apesar de pouco, ou nada, se assemelhar a um Vinho do Porto, este Portuñol acaba por ser engraçado, irreverente e muito frutado, apesar de claramente magro e curto na boca. E, claro, apesar da inspiração evidente e assumida no Vinho do Porto, as diferenças, essas também são notórias, começando pelas uvas passificadas de uma só casta… e terminando no estágio de alguns meses em barricas de carvalho francês!
Curiosamente, por mais que uma vez senti que o estilo se situava num registo muito próximo dos “Port Style Vintage” australianos… o que não constitui exactamente o melhor elogio.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Embirrações XXIV

As memórias de infância de Luís Rodrigues, o jovem Chef do restaurante Flores, do Bairro Alto Hotel, fizeram com que não goste de coelho. Felizmente a memória de ter assitido a alguns abates caseiros não lhe tolheu a criatividade, nem o medo de arriscar - cada vez com  maior segurança -  à frente da cozinha deste restaurante de Lisboa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dez anos de quem não ia aguentar seis meses

O Augusto Gemelli comemorou ontem os dez anos do seu restaurante com uma animada festa e fez-me lembrar dos seus primeiros tempos como patrão-cozinheiro, uma figura então rara na restauração portuguesa. Em vez de se meter no conforto de algum hotel ou numa fórmula garantida de cozinha italiana de plástico, ele arriscou e conseguiu tornar o seu pequeno espaço num local de culto gastronómico, hoje, felizmente, um pouco maior. Por tudo isto, pelo exemplo que deu, pela coragem, merece os parabéns e os votos de que comemore muitas décadas entre nós, mesmo que neste momento também seja forçado a fazer uma cozinha abaixo das suas possibilidades, a preços mais adequados à realidade do nosso mercado.
A ocasião também me fez lembrar a quantidade de vezes que me disseram, principalmente durante a difícil fase de afirmação do restaurante, que "o Gemelli não se vai aguentar nem seis meses" ou "aquilo está para fechar". Creio que noutras áreas de actividade a boataria também é frequente, mas na restauração...Se eu acreditasse em tudo o que me disseram "de fonte segura" e não me tivesse dado ao trabalho de confirmar junto dos próprios, teria escrito que Aimé Barroyer foi despedido não sei quantas vezes do Pestana Palace, que a Fortaleza do Guincho ia acabar com a consultoria de Antoine Westermann, que o Vítor Sobral se ia embora para o Brasil, que o José Avillez não se aguentava no Tavares e por aí fora. Por curiosa coincidência, ainda ontem me telefonaram a garantir que o chefe de um renomado restaurante lisboeta ia sair (aliás, já tinha saído há dez dias) e abrir um pequeno restaurante próprio. Liguei-lhe e ele desmentiu-me cabalmente a "informação". Mais tarde, encontrei-me por acaso com o proprietário do restaurante, coloquei-lhe a questão e ele riu-se a bom rir, ligou para o chefe à minha frente e riram-se juntos mais um bocado. Eu só não ri com eles porque sei que infelizmente muitos desses boatos são postos a circular propositadamente e que podem causar problemas a restaurantes e à gente que neles trabalha. E o mais triste é que na sua maioria esses boatos têm origem em "colegas" de profissão que parece que não percebem que "quem com ferro mata, com ferro morre".

domingo, 1 de novembro de 2009

Mas que grande lata...


Convenhamos, nunca antes o conceito de vinho de garagem tinha sido levado a tal extremo…
E não, não é um vinho australiano, californiano, ou de outras paragens tal-qualmente liberais. É um vinho da velha Europa, um vinho alemão…coerentemente aprontado numa antiga garagem de tractores!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Em grande no Alto de Lisboa


Restaurante Panorama


Poucos são os restaurantes que se podem gabar de possuir uma vista esplendorosa como este. Situado no último andar do Hotel Sheraton, um dos maiores edifícios de Lisboa, o Panorama não pretende ser apenas mais um restaurante de hotel virado para a clientela interna. As obras de remodelação de que o hotel foi alvo, em 2007, transformaram-no numa referência “trendy” da capital e tiveram um efeito semelhante no restaurante. E as coisas nem começaram muito bem neste ponto. Declarações precipitadas sobre a ambição de conquista de estrelas Michelin a curto prazo, ainda o restaurante mal tinha aberto, colocaram a fasquia demasiado elevada a um jovem Chef, Henrique Sá Pessoa, que iniciava ali uma nova etapa com uma equipa a necessitar de rodagem e entrosamento. As reacções não se fizeram esperar e as referências negativas leram-se e ouviram-se por aí. Felizmente esse passo em falso foi superado. O Henrique saiu para abrir o Alma, onde faz neste momento um enorme sucesso, e Leonel Pereira substitui-o à frente da cozinha. Seguiu-se um período discreto em que pouco se ouviu falar deste espaço, o que permitiu ao novo Chef afinar e desenvolver as suas propostas. Leonel Pereira não é propriamente um novato, antes pelo contrário. No seu currículo constam passagens por Paris, Veneza, Algarve e Brasil onde, neste ultimo país, como responsável pela cozinha dos hotéis Pestana, foi considerado Chef revelação do Ano por uma grande referência local, o Guia 4 Rodas. Talvez por influência de todos estes sítios por onde passou a sua cozinha de autor é uma cozinha do mundo em que produtos de várias proveniências se cruzam numa fusão equilibrada, sem números de circo.
Suba-se então ao último andar, saia-se do elevador e dê-se de caras com a vista panorâmica sobre a cidade. À direita um piano transparente demarca a zona do bar (onde é permitido fumar). À esquerda, após o balcão, a sala de refeições. O Luxo impera e felizmente um certo bom gosto também. Cores sóbrias, iluminação exemplar e mesas à distância certa. Sobre as mesas - bem atoalhadas - loiça, copos (para água) e talheres, tudo Christofle.  
Com esta envolvente e com um menu cheio de propostas sugestivas é quase criminoso não optar pelo menu de degustação. O de 5 pratos custa 49€ e vale a pena. Na noite em que jantámos, há cerca de um mês, a sessão teve um começo auspicioso com um carpaccio de vieiras e ananás como entretém de boca. De seguida, de entrada, um tártaro de robalo com ovas de tobiko (peixe voador), funcho e cerefólio, servido com um gaspacho de morangos. A profusão de elementos poderia colocar em risco sabores mais delicados, como os do robalo. Mas isso não aconteceu e cada ingrediente teve o seu papel sem anular o outro. Aliás este princípio foi válido para os restantes pratos. Ao contrário de uma tendência actual mais minimalista, Leonel Pereira utiliza bastantes elementos em cada prato mas consegue fazê-lo quase sempre de forma harmoniosa (e também com sentido estético apurado), como aconteceu também com o prato seguinte, Lagostins salteados com cristais de cítricos, geleia sólida de alvarinho perfumada com baunilha e falsa maionese de melancia. No Robalo cozinhado em vácuo com água do mar e salicórnias, creme de topinambours e (cogumelos) pleurotus, a profusão de elementos foi mais contida, o que permitiu uma maior expressão ao sabor delicado do peixe. Como prato de carne tivemos um Carré de leitão desossado com batata nova confitada em azeite de baunilha e acompanhado de um puré de nectarinas. Pena que o puré não tivesse dado o contraste cítrico necessário a tão forte conjugação com a baunilha a sobrepor-se em demasia. O que valeu foi que para desenjoar foi-nos servida uma sobremesa light : Bouquet de frutas - morangos, framboesas, mirtilos, maças e figos -, folhas e flores sobre creme de papaia e nêspera.
Em termos de vinhos o serviço foi correcto: boas opções na carta, temperatura certa, bons copos). A acompanhar o menu bebeu-se um Covela branco 2007, embora o leitão necessitasse de algo mais robusto. Por último, de referir que fomos atendidos por uma equipa de bom nível profissional que ajudou a completar o bom momento de refeição neste espaço de características únicas.   

Tártaro de robalo com ovas de tobiko , funcho e cerefólio,  gaspacho de morangos



Carré de leitão desossado, batata nova confitada em azeite de baunilha, puré de nectarinas



Bouquet de frutas, folhas e flores sobre creme de papaia e nêspera
(Preço da refeição descrita + couvert, água e cafés: 141€/2 pessoas)
Contactos: Hotel Sheraton Lisboa, Rua Latino Coelho 1 - Lisboa ; Telefone: 213120000
Texto publicado originalmente no suplemento Outlook (Diário Económico) em 24 Outubro 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Guia de Vinhos Rui Falcão 2010



A Edição de 2010 do Guia de Vinho do Rui Falcão, com mais de 4000 vinhos classificados, acaba de sair. Este ano mais cedo, este é o segundo guia de vinhos a sair para o mercado, depois do de João Paulo Martins.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Cantina vencedora


Ambientes descontraídos, petiscos na mesa, bons preços. Há mais um lugar em Lisboa muito recomendável para quem aprecia a fórmula. Trata-se da Cantina, no fabuloso espaço da Lx Factory (só é pena a inglesada, apesar de se perceber as alusões warholianas), perto do Largo do Calvário, com as suas lojas e ateliers, destacando-se a livraria Ler Devagar, onde não se deve perder a visita, no piso superior, às engenhocas do artesão italiano Pietro, com explicação do próprio. Fui jantar duas vezes à Cantina, a segunda na semana passada, e gostei muito. A começar pelo óptimo pão, acabado de cozer no forno a lenha, os enchidos de entrada, as tostas com escabeche de coelho, a raia frita, o pato assado, o arroz de carqueja com vitela barrosã. Tudo muito bem feito e saboroso. Só para se ter uma ideia, na última vez, éramos uns oito ou nove à mesa, bebemos, é claro, o vinho da casa servido a jarro (há outros, de marca, mas aqui não me faziam sentido), pagámos 15 euros por cabeça.
O lugar está decorado caoticamente, aproveitando peças antigas, com um bom gosto impecável, à noite fica cheio e é muito bem frequentado, com clientes animados e satisfeitos. Conversei brevemente com José Bengaló (espero não estar a escrever mal o nome), um profissional experiente e bem disposto, que creio já ter estado nas equipas de Justa Nobre e Vítor Sobral, entre outros, e fiquei com a melhor das impressões. A ideia, disse-me ele, é mostrar pratos bem portugueses que fujam à vulgaridade dos "pratos do dia" que se vêem de Norte a Sul do País. Convém reservar: 91 2292105.
Nota: fotografia roubada à Time Out. Espero que não se importem.

Embirrações XXIII

Director, ou melhor, "diretor" da revista brasileira Prazeres da Mesa, Ricardo Castilho diz-nos que "não suporta frango".

sábado, 24 de outubro de 2009

Sábado - Guia de Restaurantes 2009



A Sábado pediu aos Chefs Fausto Airoldi, José Avillez, Marco Gomes e Vitor Sobral que elegessem os 25 restaurantes da sua preferência. No fundo, como refere Edgardo Pacheco no texto de abertura, "pedimos que indicassem os restaurantes onde comem quando estão de folga".  Temi que pudesse ser uma "panelinha" de elogios entre pares. Mas, na generalidade, as escolhas pareceram-me genuínas e com vontade de dar a conhecer de tudo, do lugar mais sofisticado ao mais simples.

Em simultâneo foi pedido também a cada um que indicasse quem são os novos valores da cozinha portuguesa que irão marcar os próximos anos. Aqui ficam os eleitos dos Chefs (alguns já serão mais consagrados do que propriamente "novos valores"):

  Vitor Sobral:
  • António Nobre - Degust'Ar,  Évora
  • Henrique Mouro - Club,  Vila Franca de Xira
  • Júlio Vintém - Tomba Lobos, Portalegre
         (os 3 foram também escolhidos por José Avillez)



 Fausto Airoldi:
  • Alexandre Silva - Bocca, Lisboa
  • Henrique Sá Pessoa - Alma, Lisboa
  • Ljubomir Stanisic - 100 Maneiras, Lisboa
            (os 2 ultimos foram também escolhidos por José Avillez e por Vitor Sobral)


    
  José Avillez
  • David Igrejas - Foral da Vila, Cascais
  • João Antunes - Vin Rouge, Cascais
  • João Sá - G spot, Sintra
             (João Antunes foi também escolha de Fausto Airoldi)


 
   Marco Gomes
  • Isabel Vitorino - Papa Boa, Guimarães
  • Ivo Loureiro - Azeite e Alho, Apúlia
  • Jorge Coimbra - Castas e Pratos, Peso da Régua
  • Renato e Dalila - Ferrugem, Famalicão

O Guia pode ser consultado aqui

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Low-cost vínico?


Sim, sim, bem sei que o termo “low cost” não é de agrado geral e que se presta a interpretações mais ou menos duvidosas, mas o vocábulo é suficientemente explícito para me ajudar numa breve e simples reflexão. Porque é que a oferta gastronómica se adaptou tão depressa, e tão radicalmente, ao conceito, expresso na diversidade de restaurantes de autor que abrem portas oferecendo refeições cuidadas a preços mais que sensatos… enquanto a oferta vínica tarda em abraçar o conceito ajustado ao vinho? Quanto tempo mais tardarão a despontar os vinhos de autor “low cost”?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um português a aprender no El Bulli

A culpa é minha por dar à política uma atenção que se calhar ela não merece, fazendo com que nos últimos tempos tenha andado algo distraído. Por isso, apesar de leitor assíduo do Fórum de Gastronomia da Nova Crítica, só depois da Paulina Mata me ter alertado num comentário a um post que aqui escrevi, é que fui ver este tópico. De facto, depois de José Avillez, que mostrou ter aproveitado bem o tempo que por ali passou, temos agora outro jovem cozinheiro português, Frederico Ribeiro, a estagiar no El Bulli (em cima, a foto na célebre cozinha-laboratório do restaurante catalão). Aliás, o Frederico está a relatar a sua experiência em local próprio: http://www.fredericoribeiro.com/.
Conheci o Frederico Ribeiro de forma curiosa. Há quase um ano, acompanhei os sete chefes de Portugal que se apresentaram no Lo Mejor de La Gastronomia (Bertílio Gomes, Fausto Airoldi, Henrique Sá Pessoa, José Avillez, Ljubomir Stanisic , Luís Baena e Vítor Sobral), em San Sebastian, e aproveitámos para ir almoçar ao Martín Berasategui. Foi uma refeição extraordinária e, no fim, ao visitar a gigantesca cozinha (creio que cerca de 500 m2), qual não foi o nosso espanto quando fomos interpelados em português pelo Frederico que por lá andava a estagiar (sei que, depois disso, a Marta da equipa do Bertílio, agora na Casa da Comida, também lá esteve) e tivemos uma conversa muito simpática, onde percebi que, apesar da juventude, ele tinha as ideias bem arrumadas.
Depois disso, também soube agora, já esteve no Fat Duck, de Heston Blumenthal, e agora o Bulli, de Ferran Adrià. Ou seja, em cerca de um ano trabalhou nas equipas de três dos melhores restaurantes do mundo. Um currículo espectacular, que creio não ter paralelo em Portugal. Por outro lado, uma prova que temos entre nós jovens cozinheiros que vão fazendo o seu caminho na melhor cozinha a nível internacional e só por absurdo tal não acabará por nos beneficiar aqui em Portugal. Para já, vamos acompanhar a carreira do Frederico, esperando que ele sirva de exemplo para outros, e desejar-lhe toda a sorte do mundo.

Faz sentido...



... muito sentido!

P.S o Eat Local, não a ligação à Hellmann's

O Jacinto em Ipanema


O Jacinto, na parte velha de Telheiras, é um dos melhores restaurantes de Lisboa para quem gosta de ver a cozinha portuguesa próxima da tradição, mas fugindo aos lugares-comuns, com ambição de qualidade e sem se refugiar na economia do tipicismo, das travessas de inox e dos azulejos rascas na parede. Mesmo assim tem uma excelente relação qualidade/preço e um serviço, inclusive de vinhos, de grande mérito. Tive lá excelente jantar recentemente e pelo obreiro desta casa de referência, Luís Cardoso, fiquei a saber que no início de Novembro vão abrir um restaurante em plena Ipanema, na Rua Vinicius de Moraes, que se chamava Montenegro quando o poeta que agora lhe dá nome avistou lá a célebre Garota de Ipanema. Para quem está mais familiarizado com a cena carioca, vai ficar onde outrora esteve a casa do cozinheiro francês Olivier Cozan, terá 40 lugares, e é do tipo "bistrô", com forte presença de vinhos e pratos simples e saborosos.Se dependesse de mim, chamar-se-ia também Jacinto, e acho que os cariocas iriam adorar o nome, mas devido à parceria com a distribuidora de vinhos Grand Cru, terá essa designação francesa.
Pelo mesmo Luís Cardoso, soube também que o projecto que tinha em conjunto com Luís Baena, de abrir um restaurante em casa vizinha, ficou pelo caminho. Pelo que me constou de outras fontes, este abrirá, espera-se que em breve, o seu restaurante em Lisboa, mais precisamente em Santos-o-Velho, no espaço onde funcionou o Omnia.

domingo, 18 de outubro de 2009

Procura-se exorcista




Neste fim de semana tive uma experiência com vinhos velhos para esquecer. E nem eram particularmente velhos. Com excepção de um Vinho do Porto sem data, o mais antigo era de 1999. No entanto segundo alguns entendidos todos eles revelavam capacidades de envelhecimento quando sairam para o mercado. Na 6F, o primeiro a ir ao saca rolhas, um Chateauneuf-du-pape, E.Guigal 99, mais valia que não tivesse ido ou que tivesse sido vedado com screwcap, tamanho era o "rolhão" que apresentava. Ok, foi um acidente que acontece aos melhores, velhos e novos. Mas segundo o meu amigo RC, que o trouxe,  há pouco tempo tinha aberto outra garrafa que embora não padecesse do mesmo problema de rolha já estava mais para lá do que para cá. De seguida abrimos um Matallana 2000, um Ribera del Duero de Telmo Rodriguez. No nariz os aromas a fruta compotada e notas de torrefacção seguiu-se uma nova meia desilusão. Na boca, sobretudo no final, um ligeiro "vinagrinho". Para acabar houve ainda lugar para uma curiosidade que não era suposta ser mais do que isso: um Porto comprado num recente leilão, em Lisboa. Apesar de não ter data de colheita ou de engarrafamento parecia ser bem velho. O meu amigo sabia que quando o arrebatou nesse leilão por 15€, nada de muito excitante iria encontrar. Apesar de tudo ainda foi possível descobrir alguns aromas de frutos secos típicos de um tawny velho. 
No dia seguinte foi a minha vez de ir jantar a casa de amigos e resolvi levar um Quinta dos Carvalhais encruzado de 2003. Ainda nessa tarde tinha lido as melhores referências sobre a capacidade de envelhecimento deste vinho, num artigo de Padro Garcias no Fugas (Público). Quando meti o copo ao nariz  não queria acreditar no que me estava a acontecer. Visivelmente irritado enviei um SMS ao meu amigo, com quem tinha partilhado as más experiências na véspera, a descrever-lhe a experiência  olfactiva  que variou entre banana e melão podre, com rebuçado dr Bayard estragado. Como é possível tanto azar com garrafas que estiveram sempre bem guardadas em caves climatizadas? Por coincidência em ambos os jantares houve um primeiro vinho que deixou todo o mundo encantado: o Soalheiro Primeiras Vinhas 2007. Terá este magnifico Alvarinho capacidades de ensombrar a que está à sua volta?
 Não é que seja supersticioso mas vou contratar um exorcista que me receite umas mezinhas para colocar na cave de guarda. E já agora, quando voltar a abrir um Soalheiro, não abro mais nada de seguida, ponto. 

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Alemanha ficou mais perto


As coisas começam a mudar na distribuição de vinhos estrangeiros em Portugal. O movimento ainda é incipiente, incerto nos primeiros passos, sem rumo certo e definido. O que, sim, é certo, é que as águas começam a agitar-se de vez. Primeiro foi a La Fattoria com a distribuição de vinhos italianos, num portfólio que compreende um par de nomes consagrados em compita com vinhos menos mediáticos. Agora fiquei a saber da existência da Wine4Friends, um importador dedicado por inteiro aos vinhos alemães, centrado por ora nas regiões de Pfalz e Rheinessen, com incursões momentâneas por outras denominações. Tenho aqui dez vinhos para provar, na sua maioria de produtores que desconheço, e em breve espero poder acrescentar algumas considerações sobre a selecção.
Esperemos que outros se lancem igualmente nesta aventura do conhecimento, oferecendo vinhos alternativos e originais no mercado português.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pub Grátis (screwcap?)





 Caso unico em que o vedante é bem mais interessante do que o conteúdo. Estará a cortiça ainda mais em risco?

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Guia Michelin: Big in Japan


Jiji Press/AFP/Getty Images


E o desfile de estrelas da Michelin continua. Depois de Nova Iorque foi agora a vez de Kyoto. O  guia estreia-se nesta cidade e consegue logo 110 estrelas num total de 85 os restaurantes distinguidos. Destes, 6 obtêm as tão cobiçadas 3 estrelas aproximando-se de Tóquio e de Paris, cidades que detêm o maior número de restaurantes com 3 estrelas: 9 . Recorde-se que há dois anos Tóquio deixou meio mundo boquiaberto quando a estreia do guia vermelho na cidade lhe concedeu a honra de passar ser a cidade mais "estrelada" do mundo, com um total de 227 estrelas (contra as agora 110 de Kyoto, 99 de Paris, 71 de Nova Iorque e 47 de Londres). Para ler mais, aqui.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

(À)Provados

Já são conhecidos os 73 restaurantes que irão passar à 2ª fase do concurso, Lisboa à Prova. Ver listagem aqui

Quem não tem cão, caça com gato...


O trocadilho é simplesmente brilhante. E, para mal de todos os pecados e para engrossar a vergonha gaulesa, o vinho é mesmo um genérico vin de table francês!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os 100 produtores do ano

É sempre motivo de orgulho e regozijo nacional quando produtores pátrios são destacados e enaltecidos pela imprensa internacional. O contentamento é ainda maior quando descobrimos que a prestigiada revista norte americana Wine&Spirits inclui algumas adegas nacionais entre os cem melhores produtores internacionais do ano. Este ano, o destaque vai por inteiro para a Aveleda, Fonseca, Niepoort, Quinta do Noval e Quinta do Portal, os cinco eleitos portugueses pelos jornalistas da Wine&Spirits Magazine.

sábado, 10 de outubro de 2009

Embirrações XXII

André Magalhães, responsável pelo restaurante do Clube de Jornalistas (e Larousse Gastronomique à distância de um telefonema), não suporta a cenoura em farripas que por aí tanto se encontra em cima de folhas de alface.

Recomendando uma recomendação

A não perder o artigo de hoje no Fugas, do Público, assinado por David Lopes Ramos, sobre a Casa da Calçada, do chefe Ricardo Costa, em Amarante. Sendo escrito por quem é, que diz que saiu de lá em "estado de euforia", é uma satisfação enorme ver mais um jovem cozinheiro português (que terá 30 anos no máximo) com este nível, a merecer inteiramente a estrela Michelin que reconquistou para a casa no ano passado. Tenho que ir experimentar (só lá estive no tempo de José Cordeiro), mas se o David Lopes Ramos recomenda desta maneira, podem ter a certeza que é de visita obrigatória.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Visita à nova casa de Bertílio Gomes

Nesta quarta-feira, ainda antes de começar a Restaurant Week, fui finalmente jantar à Casa da Comida, uma das minhas prioridades desde que soube que Bertílio Gomes era agora o responsável pela cozinha, como chefe consultor. Tenho uma grande admiração pelo trabalho que ele desenvolveu no Vírgula, pela maneira serena como encara a sua profissão, pela humildade inteligente de aprender com os outros. Recordo a propósito um extraordinário almoço que tivemos no ano passado, juntamente com os chefes portugueses que participavam no Lo Mejor de La Gastronomia, em San Sebastián, no Martín Berasategui, e do genuíno entusiasmo que Bertílio demonstrou, sem se sentir diminuído por mostrar admiração. Via-se que estava cada vez melhor, em pleno crescimento, e continuo a achar que, aos 32 anos (creio que é essa a sua idade), é um dos chefes com maior futuro. O fim do Vírgula fez-me temer que ele, que tem família e contas para pagar, se encaixasse nalgum hotel onde a ditadura do food cost e da necessidade de agradar a gente de todos os cantos do mundo, destruísse uma carreira que se antevê brilhante.
Felizmente, surgiu a oportunidade da Casa da Comida e a primeira coisa que me agradou ao chegar a este magnífico espaço junto ao Jardim das Amoreiras, foi ver que havia várias mesas cheias, apesar da noite ser de semana e tempestuosa, algumas com turistas, mas também com portugueses. Ao longo da refeição, outros clientes foram chegando e senti no ambiente aquele ruído especial de conversas animadas e boa disposição, que a comida tanta vezes desperta. É uma das coisas que sempre verifico quando vou a um restaurante, seja uma tasca seja um três estrelas, e raramente esse "barulho de fundo" dá indicações erradas.
Marquei mesa com um nome falso e não vi o Bertílio por lá. Por isso, tenho quase a certeza de que ninguém me reconheceu ou deu "tratamento especial". Na lista, encontrei já vários pratos assinados por Bertílio, incluindo o célebre polvo assado com batata doce de Aljezur (um produto Slow Food, de que ele tem sido um dos principais divulgadores) tão apreciado pelo Miguel Pires, mas acabámos por pedir, éramos três à mesa, duas entradas: "mozzarella" de queijo de Arraiolos com maçã e pastel de caracol com caldo de rabo de boi. Nos principais, bacalhau à Zé do Pipo na versão do chefe, garoupa assada com cupeta de porco ibérico e molho de ervilhas (na foto, de Nuno Correia, feita para o Grande Livro dos Chefes, de Fátima Moura) e pintada com caril e lima e maçã braseada. Na sobremesas, doce conventual do século XVII, que veio com um gelado de maçã.
Provei de tudo e a nota final é francamente positiva, principalmente devido à estupenda garoupa , numa combinação interessantíssima (já tinha provado uma versão parecida, com cherne, que Bertílio tinha apresentado num jantar em San Sebastián) e plena de sabores, e também pela perfeição do prato de bacalhau. Já as entradas precisam claramente de ser melhoradas e a pintada foi mesmo um prato falhado, com a ave um pouco seca e monótona, sem se notar o caril ou a lima anunciados. Óptima sobremesa, uma espécie de "queijo" de amêndoa de sabor subtil, com recheio de ovos e gila. Acompanhava um bom gelado de maçã que me disseram ser feito pelo Bertílio (ele tem uma gelataria em Alhandra, juntamente com a sua mulher), havendo aliás vários outros gelados à disposição.
A carta de vinhos, embora eu perceba pouco do assunto, pareceu-me muito boa, cheia de opções que começam geralmente pelos 15 euros e vão até vinhos de topo com preços a condizer. Há também muitos vinhos a copo. Escolhi um Lagoalva da casta alfrocheiro de 1999, que me pareceu raro de encontrar, e porque gostei imenso de um outro varietal alfrocheiro deste produtor, creio que de 2004. Custou 25 euros e estava óptimo, servido à temperatura correcta. Mas não sei se toda a gente tem estes gostos. Nos vinhos, limito-me a dizer o que gosto e o que não gosto, e não sei dizer mais nada. Até porque tenho aqui o Rui Falcão e o Miguel Pires a vigiarem-me as asneiras...
O serviço é desempenhado por pessoal veterano, nem sempre bem informado sobre os pratos, mas muito cortês, profissional e atento. Destaque para o responsável pelo serviço de vinhos. No final, pagámos pouco mais de 130 euros, mas se tivesse havido mais uma entrada e duas sobremesas, é natural que fosse aos 150, o que mesmo assim é uma boa relação qualidade/preço. Das outras vezes que lá tinha ido, embora tenha gostado, achei sempre um pouco caro demais. Desta vez, foi ao contrário. Não há menu degustação, mas não sei se fará falta. É até uma maneira de se distinguir de outros restaurantes. Fiquei sobretudo satisfeito por ver que a Casa da Comida, que tanto prestígio alcançou nos anos 80 e 90, está a dar a volta por cima e que encontrou em Bertílio Gomes a pessoa certa, embora se note que o seu trabalho está apenas no início e que, como ele saberá melhor do que ninguém, ainda há aspectos a melhorar. Juntamente com o Tavares e a Tágide, dois outros clássicos recentemente recuperados, é mais um restaurante "antigo" de Lisboa que volta ao leque de escolhas dos gastrónomos dos nossos dias. Vou voltar de certeza e cheio de vontade de provar outros pratos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Uma semana gastronómica de dez dias


Começa amanhã a segunda edição do Lisboa Restaurant Week, que se prolonga até dia 18 deste mês. Mesmos preços da primeira (20 euros), mas mais restaurantes, totalizando 42. Uma boa iniciativa que parece ter agradado a clientes e responsáveis pelos restaurantes, inclusive a cozinheiros que gostam do desafio de trabalhar para um público mais alargado, eventualmente menos familiarizado ou mais preconceituoso com determinados tipos de cozinha. Segundo sei, a organização está consciente de que houve algumas confusões com as reservas na primeira edição (em parte decorrentes do grande êxito que tiveram, com uma procura enorme) e vão tentar evitar que se repitam. Convém também que os restaurantes correspondam, apresentando propostas válidas e que mostrem o estilo culinário que praticam. Se não conseguem fazê-lo dentro destes preços, é melhor não participar. Afinal, se não servir como divulgação dos seus restaurantes para o resto do ano, dificilmente se compreende, para a maior parte dos participantes, as vantagens de servir refeições a 20 euros. Ver aqui lista dos restaurantes participantes e outras informações.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Três estrelas para o Daniel


Acaba de sair o novo guia Michelin de Nova Iorque e a grande novidade é a conquista da terceira estrela por parte do restaurante Daniel, do famoso chefe francês Daniel Boulud. Fica assim resolvida uma das classificações mais polémicas do guia, que quando se estreou foi muito criticado por dar apenas duas estrelas a este restaurante, um dos favoritos dos gastrónomos da cidade. O restaurante de Daniel Boulud vem assim juntar-se ao Jean Georges, Le Bernardin, Per Se e Masa, os outros três estrelas novaiorquinos.

domingo, 4 de outubro de 2009

cozinha japonesa sem atum azul?


Foto: Ko Sasaki para The New York Times

Nos últimos anos tem se vindo a multiplicar a quantidade de restaurantes japoneses. Se há 10 anos, em Lisboa, se contavam pelos dedos de uma mão, hoje em dia devem existir à vontade, uns 40. Ao fenómeno não tem sido alheio a popularidade que o sushi, sashimi e afins têm vindo a ganhar junto dos portugueses. É claro que a popularidade fez baixar a qualidade média, sobretudo desde que muitos restaurantes chineses  se reconverteram ao fenómeno de forma a escaparem à crise e à má fama deixada por uma inspecção da asae.
Mas o propósito deste post não é falar das novas hordas de consumidores que emergem os rolos de peixe e arroz em molho de soja - para arrepio das regras mais elementares -, nem de como estes restaurantes se tornaram barulhentos com jantares de grupo que lembram os dos restaurantes chineses dos anos 80/90.
Snobeira à parte, o propósito deste post deve-se ao artigo publicado no New York Times (e que o jornal i, publicou na passada 6ªF) a propósito da pesca desmesurada que tem vindo a reduzir drasticamente uma das espécies mais apreciadas nesta cozinha, o Atum azul. Quando um exemplar deste peixe, que pode atingir 200kg, chega a ser comercializado por mais de 100 mil euros percebe-se que a corrida ao ouro teria que provocar estragos. Se na Europa já propostas para limitar a sua captura no Atlântico, no Japão, que consome 80% de todo o atum de qualidade pescado no mundo, as autoridades continuam a assobiar para o ar. A culpa deve-se aos grandes arrastões de pesca industrial, acusam os pescadores de Oma, cidade piscatória de onde é originário o mais famoso e caro atum azul do mundo (para mais ler o artigo do NYT, aqui).

sábado, 3 de outubro de 2009

Embirrações XXI

Fernando Melo, jornalista e crítico gastronómico da revista Wine, tem o tofu como ódio de estimação. E não poupa nas palavras: "imagino-o como proteína-base do Purgatório!"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A saída de Giorgio Damasio do Lapa Palace


Foram 15 anos a cozinhar no Lapa Palace, que terminaram agora, mas o chefe genovês Giorgio Damasio, de 42 anos, garante-me que, felizmente, quer ficar em Portugal e está em "período de reflexão" até ver o que vai fazer. Devo-lhe refeições magníficas, sobretudo no tempo em que o hotel era dirigido por um profissional e gourmet extraordinário, o veneziano Sandro Fabris, que, juntamente com a sua mulher, Doris, responsável pelas relações públicas, fizeram do Lapa Palace um dos locais mais agradáveis de Lisboa. Este excelente casal está, já há algum tempo, a dirigir o histórico hotel Reid's, no Funchal, de onde me chegam relatos sempre a exaltar as suas qualidades e simpatia.
A saída de Damasio justifica-se facilmente com a mudança de proprietário do Lapa Palace, vendido pela Orient Express ao grupo português Olyssipo. Deixou de haver restaurante Cipriani e cozinha italiana. Parece que Hélder Santos, antigo "braço direito" de Damasio, ficou a tomar conta da cozinha, que parece que aposta nos sabores portugueses. Ficaram lá também outros membros da equipa, o que é bom sinal e motivo para ir experimentar. Giorgio Damasio pareceu-me feliz com o desenlace da situação, bem disposto e com vontade de começar uma nova fase da sua carreira.
Durante cerca de dez anos com Franco Luise, depois, com a saída deste, assumindo ele a chefia executiva da cozinha do hotel, Damasio foi fundamental para o trabalho que se desenvolveu no Lapa Palace. Um trabalho que incluiu também convites a nomes importantes da cozinha mundial para virem a Lisboa apresentar a sua cozinha, trabalhando com a equipa do hotel. Jacques Le Divellec, Dieter Koschina, Marc Meneau, Claude Troisgros, Sérgio Vieira foram alguns dos que me lembro assim de repente. Sandro Fabris explicou-me um dia as razões desta iniciativa: não só trazia prestígio para o hotel, como ajudava a dar formação à equipa. "Em vez de mandar os cozinheiros do hotel fazer formação durante umas duas ou três semanas em restaurantes no estrangeiros, são os chefes desses restaurantes que vêm até cá. Acho que até poupo dinheiro..." Ao ler estas palavras, percebe-se bem a diferença que faz trabalhar com bons profissionais. Tenho a certeza que Giorgio Damasio soube tirar partido deste convívio e, com o seu enorme talento, tem tudo para continuar a oferecer-nos a sua óptima cozinha.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Fancy Fast Food

A coisa vem dos EUA, esse país onde se consegue fazer dinheiro com as coisas mais inacreditáveis,  e tem por detrás uma ideia muito simples: pega-se num menu de uma cadeia de fast food, desmonta-se e recria-se. O resultado pode ser visto aqui (donde retirámos as duas fotos que publicamos abaixo) e aqui (com direito ao modus operandi filmado). Com sentido de humor o autor do blog deixa o aviso logo no inicio: "Yeah it's still bad for you - But see how good it can look!"







E Agora António?

Recupero este post que escrevi , em 2008, no Chez Pirez, e volto a publica-lo agora após a triste noticia sobre a morte do António Carvalho. 

Domingo, Março 23, 2008




Ontem fui visitar o António Carvalho, personagem que apenas conhecia de algumas palavras trocadas no reboliço do El corte Inglês, onde costumava deslocar-se sempre que lhe pediam que viesse promover os seus vinhos. Por vezes, gostava de ficar a observar, à distância, a reacção dos pseudo entendedores (daqueles que dizem que vinho é tinto e de preferência bem morninho) perante o olhar vivo e desconcertante do António, quando este os convidava a provar os seus brancos da Estremadura, região que não tem o pedigree do Douro ou do Alentejo, e em que as garrafas não ostentam, no rótulo, o nome Quinta de qualquer coisa com um brazão.

Acontece que o António Carvalho é autor e produz dois vinhos de culto portugueses, O Casal Figueira Tradition e o Casal Figueira Vindima Tardia. Na verdade não produz, produzia.
Infelizmente, agora em que as suas vinhas estavam a atingir a maturidade, vão ser substituídas por plantações de morangos industriais, para regozijo dos impacientes da fruta de época.
Ontem, quando o visitei, não lhe perguntei o porquê de sucumbir a esse poder agro-industrial, logo ele que nunca se cansou de explicar as virtudes da produção do seu vinho segundo processos biodinâmicos.
Ainda tentei puxar para a nostalgia mas percebi que estava em vias de cair no ridículo. Afinal, o clima era de festa e todos os que quiseram aparecer mostravam-se felizes por ali estarem em convívio, provando, bebendo e comendo, sem pressas, como se amanhã fosse apenas mais um dia normal.

E agora António?
“ – Agora… agora começa-se tudo de novo, noutro sitio.”