sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Orçamentos

Um dos desígnios dos vinhos nacionais é a necessidade imperiosa de exportar, de conquistar novos mercados, de exportar para sobreviver. Com um mercado nacional cada vez mais contraído, a exportação tornou-se numa necessidade real, indispensável para a sobrevivência da viticultura nacional. Segundo o célebre estudo Porter, e depois de muitos ensaios e análises de empresa de consultoria, os mercados prioritários para a afirmação dos vinhos nacionais são a Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra. Claro que as propostas, como todas as propostas, são discutíveis, e poderemos considerar que a ausência de referências explícitas ao Brasil e Angola são faltas incompreensíveis num estudo desta dimensão.
Porém, é verdade que o mercado inglês, apesar de extremamente difícil, é a placa giratória do vinho, o centro de todas as decisões e tendências, capaz de afirmar ou destruir marcas de forma global. Manter uma presença forte em Londres é imperativo para qualquer país produtor, como quase todos os restantes países produtores o descobriram há muito tempo. Claro, essa presença só fará sentido se o orçamento dedicado à promoção for consentâneo com o objectivo e consistente no tempo, mantendo a visibilidade e promoção durante muitos anos. Os números podem ser assustadores. Soube-se agora, por exemplo, que o Chile conta com um orçamento de 450.000 libras só para a promoção dos vinhos chilenos em Inglaterra, com fundos garantidos pela associação de produtores chilenos (divididos de acordo com o volume de vendas), com uma pequena ajuda do governo central. A Nova Zelândia dispõe de um orçamento semelhante, financiado apenas pelos produtores., tal como a África do Sul com um orçamento de £300.000. Depois chegam os pesos pesados Califórnia com um orçamento de £615.000… e Espanha com £1.000.000 para gastar em promoção!
Felizmente existe a Itália, país que, tal como Portugal, vive de eventos casuísticos e da carolice e empenho pessoal de alguns funcionários. País que tem também a tradição anual de oferecer jantares opíparos para a imprensa… na última semana fiscal, como forma de justificar os fundos que sobraram do orçamento…

4 comentários:

Anónimo disse...

De certeza que esses valores estão correctos? Não faltarão aí uns zeros. Estando eu por dentro do mercado publicitário, parecem-me valores muito baixos... Uma página no Times, por exemplo, não deve custar muito menos de 150 ou 200.000 libras.
Abraços e continuem com este excelente blog.
T

Rui Falcão disse...

Não posso assegurar que os números sejam 100% fiéis, mas foram os valores que me foram adiantados… por fonte alegadamente segura. No entanto, admito que sejam apenas os valores da promoção directa, em provas para o trade, imprensa e público.

EuSouGourmet disse...

100% ou apenas 50% de exactidão nos valores apresentados, não é relevante para o contexto, pois dá para ter ideia dos diferentes valores assumidos por cada países produtor.
E realmente o Chile e a Nova Zelândia estão a todo o gás!
Portugal esqueceu-se desta linha no orçamento.

Rui Falcão disse...

Ainda mais interessante que a exactidão dos números, é a origem do dinheiro para os orçamentos de promoção, variando entre capitais próprios dos produtores e a parceria entre estado e produtores. Ou seja, quem vende mais e tem maior quota de mercado, paga mais, num esforço colectivo de investimento privado, secundado, ou não, por investimento de fundos públicos. Um bom exemplo para muitos produtores nacionais, mas não todos, que esperam sempre por iniciativas do estado para promover os seus vinhos…