quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Histórias exemplares V

Um amigo gaba-me a qualidade de uma "panificadora" decorada num bonito estilo retro, localizada num bairro lisboeta na moda, cheia de clientes. Digo-lhe que sempre que fui lá a qualidade do pão deixava muito a desejar, apesar do bom aspecto e da variedade da oferta. Responde-me que, sendo amigo da proprietária, ela lhe faz sempre um pão de boa qualidade para o restaurante a que está ligado. E acrescenta que ela faz o mesmo para vários restaurantes. Insisto que os clientes que vão à panificadora, e que não são amigos da proprietária, encontram pão de fraca qualidade. "Tá bem", reconhece o meu amigo, "o pão lá não é grande coisa, mas ela disse-me que já tentou melhorar a qualidade e que os clientes não gostaram e queriam os pães a que estavam habituados...".

Moral da história: esta história é exemplar a vários títulos. Em primeiro lugar, essa noção, muito presente em lojas e restaurantes portugueses (e que, por exemplo, irrita bastante os anónimos inspectores Michelin), de que para se ser bem servido, temos que ser "amigos" dos responsáveis pelos estabelecimentos. Em segundo lugar, a falta de orgulho profissional de quem serve aos clientes algo que sabe ser de qualidade inferior. Em terceiro, o facto de num país onde há tanto pão bom e barato, as pessoas estarem a habituar-se a pães de aspecto atraente e até artesanal, mas que no fundo são uma porcaria, ocos, que se desfazem em migalhas sem sabor.

6 comentários:

Artur Hermenegildo disse...

Não tem a ver com o post, mas é só para vos dizer que descobri agorao vosso blog, que está excelente.

Não é todos os dias que se descobre um blog desta qualidade, ainda por cima feito por três amigos!

Espero que dure. Grande abraço.

(eu vou escrevendo na Tertúlia Benfiquista, Miguel passa por lá se quiseres - os dois lagartos não vale a pena, obrigado - , e no meu blog pessoal "Só os Anjos têm Asas", que está parado há meses por preguiça).

Rui Falcão disse...

Olá Artur, é bom ter-te por cá! Espero que te convertas numa visita frequente e que te sentes à nossa mesa, com ou sem marcação.
Mas… ora essa, porque é que eu haveria de ser lagarto? Nem lagarto nem benfiquista, nem portista, Belenenses, Académica ou qualquer dos outros clubes amparos de quem não se quer comprometer com uma opção clubista.
Sou do CRT, do Clube de Râguebi do Técnico, o único clube que alguma vez representei, para além desse grande ícone da capital, o Lisboa Ginásio Clube (não confundir com o elitista Ginásio Clube Português!). E pronto, está reposta a verdade.

Duarte Calvão disse...

Obrigado, Artur, aparece por cá, apesar do benfiquismo. Só pela tua visita soube que partilhava este espaço, que julgava digno até à data, com um lampião e "tecniciano", ou lá como se chamam. Abraço

Miguel Pires disse...

Que azia Duarte. Vá lá, meu caro, atté o Bettencourt se rendeu ao Glorioso.

Duarte Calvão disse...

Mais um benfiquista que, como escrevia o Inimigo Público, está a festejar no Marquês a vitória na pré-época...

Tia Maria disse...

Embora nao tendo mesmo nada a ver, é um bocado como ir a Amsterdao e num restaurante portugues, nos pedirem 35€ por carne de porco á alentejana.
Deixa um gajo irritado, sem duvida.
Cumprimentos a terra das tulipas.