segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Dez anos de quem não ia aguentar seis meses

O Augusto Gemelli comemorou ontem os dez anos do seu restaurante com uma animada festa e fez-me lembrar dos seus primeiros tempos como patrão-cozinheiro, uma figura então rara na restauração portuguesa. Em vez de se meter no conforto de algum hotel ou numa fórmula garantida de cozinha italiana de plástico, ele arriscou e conseguiu tornar o seu pequeno espaço num local de culto gastronómico, hoje, felizmente, um pouco maior. Por tudo isto, pelo exemplo que deu, pela coragem, merece os parabéns e os votos de que comemore muitas décadas entre nós, mesmo que neste momento também seja forçado a fazer uma cozinha abaixo das suas possibilidades, a preços mais adequados à realidade do nosso mercado.
A ocasião também me fez lembrar a quantidade de vezes que me disseram, principalmente durante a difícil fase de afirmação do restaurante, que "o Gemelli não se vai aguentar nem seis meses" ou "aquilo está para fechar". Creio que noutras áreas de actividade a boataria também é frequente, mas na restauração...Se eu acreditasse em tudo o que me disseram "de fonte segura" e não me tivesse dado ao trabalho de confirmar junto dos próprios, teria escrito que Aimé Barroyer foi despedido não sei quantas vezes do Pestana Palace, que a Fortaleza do Guincho ia acabar com a consultoria de Antoine Westermann, que o Vítor Sobral se ia embora para o Brasil, que o José Avillez não se aguentava no Tavares e por aí fora. Por curiosa coincidência, ainda ontem me telefonaram a garantir que o chefe de um renomado restaurante lisboeta ia sair (aliás, já tinha saído há dez dias) e abrir um pequeno restaurante próprio. Liguei-lhe e ele desmentiu-me cabalmente a "informação". Mais tarde, encontrei-me por acaso com o proprietário do restaurante, coloquei-lhe a questão e ele riu-se a bom rir, ligou para o chefe à minha frente e riram-se juntos mais um bocado. Eu só não ri com eles porque sei que infelizmente muitos desses boatos são postos a circular propositadamente e que podem causar problemas a restaurantes e à gente que neles trabalha. E o mais triste é que na sua maioria esses boatos têm origem em "colegas" de profissão que parece que não percebem que "quem com ferro mata, com ferro morre".

4 comentários:

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Caro Duarte

Parabens ao Augusto pelos seus 10 anos cheios de sucesso à frente do Gemelli, e parabens a ti por mais uma vez "meteres os dedos na ferida" que não é mais que a inveja nacional. Infelizmente vivemos num País onde o sucesso em vez de causar alegria causa inveja. Infelizmente somo mediocres a esse ponto. Enquanto essa mentalidade não mudar podes crer que não vançamos para lado nenhum. Desculpa o desabafo.

Zé Tomaz

Duarte Calvão disse...

A casa é tua. Desabafa à vontade. Abraço

Anónimo disse...

Quem é o Augusto Gemelli?

Anónimo disse...

É um defesa direito uruguaio do Belenenses.
Enfim...

TC